quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Comendo Parrilla em Buenos Aires: “Cabaña Las Lilas” & “La Cabrera”

Eu tenho que concordar com Dolores Freixa e Guta Chaves quando, no livro “Gastronomia no Brasil e no mundo”, elas dizem que “a gastronomia é um inventário patrimonial tão importante culturalmente quanto os museus, as festas, as danças e os templos religiosos”, pois, ainda que eu visite todas as atrações turísticas de um local, se eu não comer algo típico da região, não considero que a minha viagem foi completa ou que eu conheci de verdade o lugar visitado.
A cidade de Buenos Aires oferece vários clássicos da culinária argentina, como a provoleta (fatia grossa de queijo provolone, temperada e assada na grelha, ficando macia e derretida por dentro e crocante por fora), o locro (ensopado à base de abóbora, feijão, milho e carne), a empanada (salgado no formato de um pastel de forno, que apresenta várias opções de recheio e é assado), o doce de leite, o sorvete, o alfajor e, claro, as parrillas.
Se tem uma coisa, fora o futebol, que orgulha e alegra os portenhos, isso se chama carne. Com cortes bem diferentes dos nossos, a parrilla (podemos dizer que equivale ao nosso churrasco?) é o mais famoso e querido prato argentino.
Em Buenos Aires, duas casas disputam a atenção dos turistas e, até mesmo, dos locais: “Cabaña Las Lilas” e “La Cabrera”. Você percebe isso ao pesquisar, em sites ou livros, onde comer uma boa parrilla.
O livro “1.000 lugares para conhecer antes de morrer”, da jornalista Patricia Schultz, indica o Cabaña Las Lilas como um dos 1.000 destinos imperdíveis. Diz a autora: “O lugar é o endereço preferido pelas autoridades quando se trata de apresentar algum VIP estrangeiro a essa especialidade nacional. Os novilhos argentinos são criados numa dieta de grãos livre de hormônios, o que resulta numa carne menos gordurosa e, portanto, com menos colesterol. Em matéria de qualidade não encontra rivais no hemisfério sul, talvez em nenhum outro lugar do mundo.”
Já no “Guia dos Guias – Restaurantes 2014”, Boninho e Ricardo Amaral optam pelo “La Cabrera”, indagando ao leitor: “Você vai à Argentina para que mesmo? Comer a melhor parrilla de sua vida, talvez? Bem, então vai ser difícil deixar de visitar este restaurante presente na seleção de dez em cada dez guias turísticos.”
Ao enumerar restaurantes que servem parrilla, o guia turístico “Top 10 Buenos Aires”, publicado no Brasil pela PubliFolha, faz menção aos dois templos da carne, que também estão listados entre os 5 estabelecimentos em solo argentino que valem a experiência, segundo o livro “1001 Restaurants you must experience before you die”.
Como não sou boba, fui conhecer as duas casas. Entretanto, como a briga é entre cachorros grandes, não vou tomar partido de nenhum dos lados, pois achei a qualidade e o preparo das carnes igualmente fantásticos em ambos. Aqui, conto para vocês como foram as minhas experiências e, caso queiram, sopesando um detalhezinho aqui e outro acolá, escolham a sua preferida.

CABAÑA LAS LILAS


A fama do Cabaña Las Lilas, inaugurado em 1995, não é à toa, pois a casa surgiu da união do grupo brasileiro Rubaiyat, reconhecido pelo seu padrão de excelência no preparado de carnes e atendimento ao público, com a empresa argentina Estancias e Cabaña Las Lilas S/A, especializada na criação de reprodutores. 
Localizado num armazém reformado na antiga região portuária de Puerto Madeiro, o estabelecimento é decorado com móveis de madeira escura e muito couro. O salão envidraçado proporciona ao comensal uma aconchegante vista do porto desativado, mas revitalizado. Quem preferir, poderá se sentar no amplo terraço ao ar livre. 


Nós fomos almoçar numa quinta-feira e não tínhamos reserva, mas foi tranquilo conseguir mesa para 6 pessoas.
Aos que quiserem agendar, é possível fazê-lo através do site do restaurante (www.restaurantlaslilas.com.ar), que redireciona o cliente ao site do Restorando, do telefone de número 00 54 11 4313-1336 ou do seguinte endereço eletrônico: restaurant@restlaslilas.com.ar.  
O Cabaña Las Lilas tem uma carta de vinhos premiada (Wine Spectator) e sua adega se exibe para os clientes logo na entrada. Mas... como não sou grande fã da bebida fermentada do sumo da uva, para beber, pedi uma caipirosca de morango que estava com o açúcar bem equilibrado e uma quantidade abundante da fruta vermelha.


De entradinha, ficamos apenas com o couvert, que rapidamente foi trazido à mesa e era formado por pães, presunto cru, salada caprese (tomates cerejas e bolinhas de mozzarella de búfala), berinjela, salmão grelhado ao pesto e um delicioso patê de gorgonzola (que me lembrou uma manteiga de gorgonzola que o Daniel preparou, num churrasco, para passarmos na carne saída da churrasqueira e, com o calor, ela se derreter... hummm... pensando nisso, agora, fiquei chateada de não ter passado o patê no meu ojo de bife).


Há várias opções de carnes no cardápio: bife de chorizo, medallón de lomo, baby beef, T-bone Steak, tapa de cuadril etc.
Escolhi um ojo de bife e, imaginando algo rosado no interior e bem selado por fora, pedi que ele viesse na fase entre ao ponto e bem-passado, puxando mais para bem-passado, pois não gosto de carne com sangue escorrendo. No final, achei que a parte menos espessa da carne ficou esturricada (muito seca).
Por isso, aqui vai uma dica para você acertar no ponto da carne: peça jugoso, se quiser malpassada; al punto, se desejar ao ponto; e cocido, se sua vontade for comer uma carne entre ao ponto e a bem-passada.


O Daniel (meu maridinho) pediu uma suculenta e macia costela de cordeiro (Costillitas de Cordero Patagônico). Estava tão gostosa, que minha vontade era trocar meu prato pelo dele e, ainda, roer todos os ossinhos até o talo (rsrsrs).


O prato de parrilla não traz acompanhamento, apenas a carne. É preciso pedir a guarnição à parte. Uma alternativa interessante é a papa soufflé (chips de batatas fritas insufladas... não sei como eles fazem isso, mas o chip se enche de ar e fica bem sequinho e crocante).


Para banhar a carne, eles oferecem o clássico molho argentino Chimichurri (mistura de azeite de oliva, vinagre, alho e especiarias), que você não pode deixar de provar, e o nosso conhecido vinagrete.


Depois de tamanha comilança, ninguém aguentou saborear uma sobremesa. Então, para finalizar, pedimos espressos e cappuccinos. Eu até tinha sugerido tomarmos um cafezinho no Café Tortoni, mas o olho gordo do Daniel (rsrsrs) viu, na mesa ao lado, os biscoitinhos que acompanhavam o café e quis tomar lá mesmo.


Como mimo da casa, os garçons levam à mesa duas garrafinhas com Limoncello e Grapa, para que os comensais bebam à vontade.


A comida como um todo é muito gostosa e bem executada, mas o atendimento, bem moroso, está longe de se equiparar aos padrões paulistanos. Por isso, vá sem pressa para não acabar se estressando com a demora. 

LA CABRERA
O La Cabrera, que figura na 22ª posição da lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina da revista inglesa Restaurant, conta, hoje, com 4 unidades. Três estão localizadas na Rua José Antonio Cabrera (La Cabrera Sur, La Cabrera Norte e La Cabrera Boutique) e são praticamente vizinhas uma da outra (é um verdadeiro case de sucesso).
Através do site da casa (www.parrillalacabrera.com.ar), que me direcionou para o sítio Restorando, fiz uma reserva para o almoço do sábado. A minha ideia inicial era não fazer reservas para o almoço, para que não ficássemos presos ao horário e pudéssemos passear à vontade. Mas, como eu queria muito conhecer o restaurante e li que o mesmo é muito concorrido, formando-se grandes filas de espera nas 3 unidades da Rua Cabrera, acabei cedendo e agendando a visita, pois se tem uma coisa que eu odeio, essa coisa é esperar.
Quando efetuei a reserva pelo site Restorando, não optei por nenhuma das unidades, não havia essa opção. Imagino que o sistema seja “inteligente” e direcione o cliente para a casa que tenha vaga (sei lá qual é o critério adotado). A confirmação chegou ao meu e-mail e trazia o endereço para onde eu deveria me dirigir. Entretanto, quando o taxista foi nos deixar no endereço fornecido pelo Restarando, percebemos que o mesmo estava com a numeração errada (o certo era 5099 e o site informou 5197). Por sorte, não perdemos a reserva, pois eles seguram por 15 minutos e nós já estávamos no limite desse tempo.
Eu até mostrei o e-mail recebido para a hostess, para que ela pudesse informar ao site de reservas e não confundir outros clientes, mas não achei que ela deu muita importância para isso... paciência!
O estabelecimento tem uma decoração bem descolada e colorida, inclusive com mesas na calçada, ao ar livre.
De entrada, ficamos com o couvert (composto por pães, patê de foie gras, manteiga e vinagre) e provamos a provoleta, acompanhada de jamón crudo (presunto cru) e tomate seco, que se revelou uma boa pedida.



O grelhado escolhido foi o “Lomo com marinada de verduras”. 600g de um macio e suculento filé mignon, acompanhado de mini porções de fava, risoto al dente e verduras marinadas.


Para acompanhar o lomo, pedimos uma porção de batatas fritas roliças com confit de cebola caramelizada, que com uma pitadinha de sal ficou deliciosa.


Aqui, preciso ressaltar que nem precisaríamos ter pedido as batatas, pois o diferencial do La Cabrera é justamente a alucinante quantidade de guarnições que são deixadas na mesa em pequenas porções.
Foram tantos bowls trazidos à mesa, que mal consegui tirar fotos para mostrar para vocês. Dentre as guarnições oferecidas, haviam muitos purês (de maçã, de batata com gorgonzola, de cenoura e de abacate), berinjela picada, ceboletes agridoce, mini espigas de milho etc. Todavia, os acompanhamentos servidos se destacam mais pela variedade oferecida do que propriamente pelo sabor que apresentam, que é bom, mas nada de excepcional.
Uma coisa negativa foi o fato de não trazem colheres para que os comensais se sirvam dos acompanhamentos, fazendo com que cada um enfiasse seu garfo nas cumbucas.





O crème brûlée de sobremesa decepcionou. O creme estava em temperatura ambiente, o que é muito bom, pois não gosto quando eles servem gelado. No entanto, não tinha gosto algum, parecia um creme simplesmente feito com leite, uma gota imperceptível de essência de baunilha, uma colherzinha de açúcar e maizena. O ponto positivo ficou com o açúcar maçaricado, crocante e na quantidade certa, cobrindo toda a porção.
Em Buenos Aires, eles põem um pouco de geleia para finalizar a decoração do crème brûlée. Falo isso porque comi em dois lugares e, nos dois, a apresentação foi a mesma. Será que a geleia serve para dar um sabor ao creme sem gosto? Pode ser...


Na hora da dolorosa, o mimo da casa ficou por conta de uma torre cheia de pirulitos, que foi deixada na mesa para que nos servimos à vontade.        


Achei o atendimento melhor do que o do Cabaña Las Lilas, mas, ainda assim, não se pode dizer que seja impecável.

CONCLUSÃO
No quesito carne, embora o Cabaña Las Lilas tenha uns cortes mais nobres, as duas casas oferecem uma boa variedade. As carnes, que exalam qualidade, frescor e suculência, são fielmente executadas conforme o gosto do cliente.
O Cabaña Las Lilas tem uma decoração e um ar mais sofisticados, o que acarreta, consequentemente, em preços mais elevados. O La Cabrera tem uma decoração mais despoja e regionalista.
Apesar de ter visto mais garçons circulando pelo Cabaña Las Lilas, eu diria que o atendimento é médio nos dois restaurantes. Que fique claro que minha análise está tomando por base o nível de serviço oferecido na capital paulista. Eu sou de Maceió e sei que lá e em outros lugares do Brasil o nível de excelência não é o mesmo. E isso não significa que seja ruim, mas é que, em São Paulo, a rotatividade nos restaurantes é tão grande, que gera um atendimento muito rápido e a gente acaba se acostumando a isso.  
Ambas mimam o cliente. O Cabaña Las Lilas com o Limoncello e a Grapa. O La Cabrera com a torre de pirulitos. O que confirma minha tese de sofisticação do primeiro e despojamento do segundo.
O ponto alto do Cabaña Las Lilas é a localização e do La Cabrera, com certeza, a quantidade de guarnições.
Enfim... aos que pretendem conhecer apenas uma das casas, seja por que motivo for (tempo, grana etc.), espero não tê-los deixados mais embaraçados ainda na escolha do restaurante.
Na minha humilde opinião... tá na Argentina? Coma muitaaa parrilla e, se puder, vá aos dois, que são restaurantes tradicionais, confortáveis, com excelente carta de vinhos e, principalmente, sem aquele ar de “pega turista”.  

Informações:
CABAÑA LAS LILAS
Endereço: Alicia Moreau de Justo 516 – Puerto Madero
Fone: 00 54 11 4313-1336
Site: www.restaurantlaslilas.com.ar

LA CABRERA
Endereço: José Antonio Cabrera 5099 - Palermo
Fone: +54 11 4831-7002
Site: www.parrillalacabrera.com.ar

domingo, 16 de novembro de 2014

OSTERIA DEL PETTIROSSO: Uma autêntica cantina romana!

A culinária francesa, com seus molhos encorpados e gordurosos, me encanta. O jeito como a culinária japonesa se adequou ao paladar do brasileiro me agrada bastante. Quanto à extensa e diversa culinária brasileira, eu indago: tem como não se orgulhar? Feijoada, acarajé, moqueca, tapioca, carne de sol, pão de queijo e cia. Mas... Eu não posso mentir, a minha preferida é a culinária italiana.
É difícil ter um recheio que não fique bom na massa de pizza ou um molho que não harmonize com um espaguete ou um fettuccine.
Durante grande parte de minha vida, eu daria tudo para que o meu almoço fosse uma farta lasanha bolonhesa, com bastante molho de tomate, molho branco e carne moída. Ou um belo espaguete com molho branco em sua essência, mas repleto de queijos na sua composição.
E é aqui que entra em cena o meu marido, com sua descendência italiana e seu gosto pela gastronomia, para moldar o meu paladar.
Quando ainda namorávamos, o Daniel preparou uma massa caseira para mim. Quando eu digo que ele preparou, eu quero dizer que ele pegou a farinha, o sal e o ovo, misturou tudo, fez o espaguete e me mostrou com uma massa fresca é infinita melhor do que uma massa comprada pronta, ainda que essa massa seja da Barilla ou de outra marca conceituada no mercado. É lógico que eu já havia comido massa fresca em restaurantes, mas ninguém nunca havia aguçado os meus sentidos com o intuito de exibir o real sabor de uma massa artesanal.
E foi aí que eu entendi que molhos são feitos para complementar, mas não para mascarar o sabor do prato, como bem disse o premiado Chef inglês Michael Roux, na introdução do livro “Receitas de Molhos”: “Os molhos são a alquimia do cozinheiro, incrementando os pratos com os quais são servidos de forma mágica e extraordinária. Eles devem, porém, ser muito bem escolhidos, de forma a enfatizar os sabores do prato sem sobrepujá-los de nenhuma maneira. Um molho cuidadosamente preparado vai se integrar ao prato, tornar-se parte dele.”
 Hoje, por mais que adore um molho, eu quero sentir o sabor do espaguete, do fettuccine, do bucatini etc, pois essa é a verdadeira essência de um bom prato de massa.
E foi justamente por esse gosto que eu desenvolvi que amei a “Osteria de Pettirosso”, bicampeã na categoria “Melhor Cantina/Trattoria” (2013 e 2014) do guia Veja São Paulo Comer e Beber.
A casa é comandada pelo Chef Marco Renzetti, que prepara clássicos de sua terra natal, a capital italiana, Roma.
O cardápio é dividido em 2 opções: o “Menu Tradizione”, com prato romanos, nos quais o Chef não altera uma vírgula da receita; e o “Menu Fantasia”, onde o Chef expressa a sua criatividade em criações próprias. O cardápio segue a tradição italiana, indicando opções de primeiro (essencialmente massas) e de segundo prato (pratos mais robustos com proteína). Mas eu acredito que sejam poucas as pessoas que pedem dois pratos. Afinal, no Brasil, somos acostumados, exceto quando optamos por menu degustação, a pedir apenas um prato principal.
Numa segunda-feira, através do site do próprio restaurante (http://www.pettirosso.com.br/permita-se-uma-experiencia/), fiz a reserva para ir jantar no sábado seguinte. Aguardei por um e-mail de confirmação, mas como ele não chegou, na quinta, liguei para confirmar, pois, como o restaurante está disputadíssimo, imaginei que minha reserva talvez não tivesse sido realizada por indisponibilidade de mesa. Mas, felizmente, o atendente confirmou que a mesa estava garantida. 
A minha noite começou com o pé esquerdo, pois o “Bloody Mary” que eu pedi veio com duas argolas plásticas de lacrar garrafas de bebidas dentro do drink. Inicialmente, achei que fosse algo utilizado como decoração, mas quando olhei mais de perto, vi o que era. Pedi que o garçom trocasse e, depois, fiquei com aquela dúvida rotineira: será que ele levou até o barman, que tirou as argolas, complementou o drink e mandou o mesmo de volta à mesa? O drink novo, ao contrário do primeiro, tinha sal na borda do copo. Mas... quem garante que não foi apenas uma troca de copo? Enfim... como eu já bebi, melhor não pensar muito nesse “pequeno” detalhe. Abaixo, estou colocando uma foto da versão “premiada” do drink para vocês não acharem que estou de conversa mole (rsrsrs).


Nós pedimos duas entradinhas: a “Polenta e Spuntature” (pequenina porção de polenta ao molho de costela suína, toscana, tomate e funghi) e a “Insalata Mediterrânea” (mix de folhas, ervas, tomate confit e burrata). A polenta estava muito cremosa e o molho bem executado, mas confesso que não senti gosto nenhum de funghi. A salada estava montada de forma graciosa e a burrata, bem pastosa, compôs uma alquimia perfeita com o mix de folhas.  



De prato principal, escolhi o “Tonnarelli fini alla Carbonara”. Uma massa fresca, com cozimento adequado, servida com o clássico molho à base de ovos, queijo pecorino e pancetta. Embora o molho estivesse um pouquinho apimentado (estou melhorando... mas ainda continuo bem sensível à pimenta), eu adorei o meu prato, que parece fácil de fazer, mas demanda certos cuidados para que resulte numa considerável explosão de sabores.  
Aqui, eu abro um parêntesis para dizer que os embutidos são preparados na casa. Seguindo a tradição italiana, eles não usam embutidos defumados, como o bacon. Utilizam a pancetta, que, assim como é o bacon, provem da barriga do porco. No entanto, enquanto o banco é defumado, a pancetta é curada com sal e pimenta do reino.


A minha irmã e o meu cunhado dividiram o “Fettuccine Imperiali”, que custa R$ 110,00, mas serve duas pessoas. O prato nada mais é do que o tradicional “Fettuccine Alfredo”, preparado com esmero pelo Chef, que vai até a mesa finalizar a mistura perfeita de apenas queijo parmesão e manteiga (nada de creme de leite). Eu provei e achei essa massa simplesmente S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L.


Na hora da sobremesa, fiquei em dúvida entre o “Sformatino di polenta e miele alla sambuca, ricota bruciatta” (pequena torta doce de polenta, mel e ricota fresca assada) e o “Crema pasticcera com salsa alla frutta, Meringa, fragoline di bosco e pralina di nocciola” (creme pasteleiro, calda de frutas cítricas, suspiro, moranguinhos silvestres italianos e pralina de avelã). Estava mais inclinada a escolher a segunda opção, mas como o garçom falou que tinha manga na parada, acabei preferindo a primeira, que era um bolinho quente de milho, com massa aerada, servido com mel e um pedaço de ricota.


Meu cunhado pediu o Tiramisù. Como não provei, não sei dizer se estava bom. Mas achei bela e criativa a apresentação, por isso, resolvi colocar a foto para vocês verem.


A charmosa cantina dos Jardins proporciona ao paladar do comensal uma verdadeira viagem aos clássicos romanos. A massa é cozida no ponto certo e os molhos são meticulosamente preparados com ingredientes frescos, que transbordam qualidade e sabor.
Só achei que os garçons poderiam ser mais preparados. Eu reconheço que faço perguntas que poucos clientes fazem, como, por exemplo, a diferença entre o bacon, a pancetta e o guanciale. Uma pergunta que eu até aceito que o garçom não saiba responder, embora acredite que deveria, já que trabalha num restaurante que se orgulha dos embutidos que produz. Agora, eu perguntar como funciona o “Menu Degustação” e o garçom dizer que a casa não oferece este serviço é inaceitável! O profissional tem que conhecer as experiências que a casa oferece. Como eu insisti, pois tinha visto na Vejinha que o restaurante oferece o serviço, mas não tinha entendido direito como funciona, o rapaz chamou o Sra. Erika, esposa do Chef, que me explicou que, para vivenciar a degustação, é preciso, no momento da reserva, informar que quer fazê-la, assim o Chef irá deixar tudo encaminhado para o grande dia.
Quero voltar e provar o “Menu Degustação”... já imaginou um monte de pratos de massas desfilando pela mesa? Deve ser sensacional!    

INFORMAÇÕES:
Osteria del Pettirosso
Alameda Lorena, 2.155
Fone: (11) 3062-5338 e (11) 3062-4531



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

POMODORI: não foi paixão à primeira vista, mas você me conquistou!

O mundo está em constante evolução e transformação. Então, por que nós, fatores fundamentais desta metamorfose universal, precisamos nos manter imutáveis? Se até mesmo a ciência se contradiz a todo momento, quem sou eu para formar uma opinião definitiva sobre um restaurante baseada em apenas uma experiência?
Quem acompanha o meu blog, viu que em setembro eu tive uma experiência meio frustrante no restaurante Pomodori. Que o garçom não soube me explicar direito como era uma das massas do cardápio e eu acabei pedindo um prato que não gostei.
Após o jantar, confesso que fiquei numa dúvida angustiante sobre escrever ou não escrever. Eu tinha amado o “Ravióli al Limone” servido como “Surpresa da Chef” no couvert, aprovado o atendimento desde o momento em que liguei para fazer a reserva e me encantado com a decoração ao estilo de uma Cantina chique. Será que valeria "detonar" o restaurante por uma falta de sorte na escolha do drink e do prato principal?
Certo dia, acordei decidida a escrever. Dirigi-me ao computador e acabei com aquele “martírio”. E, hoje, eu vejo que não poderia ter feito uma escolha melhor. E vou contar o porquê.
O meu objetivo, ao criar este blog, nunca foi simplesmente criticar um restaurante com o intuito cego de levá-lo à falência. Até porque seria muita pretensão da minha parte achar que um estabelecimento gastronômico mudaria seu status quo unicamente porque escrevi sobre ele. A minha intenção sempre foi narrar de maneira fidedigna as minhas experiências gourmet. Contando de forma detalhada as minhas impressões quanto ao atendimento, à decoração e, principalmente, à comida. Tudo isto para que o leitor tenha informações suficientes para decidir se quer conhecer o lugar.
No entanto, o meu desejo também é contribuir, se possível, através de observações construtivas, com o crescimento e aperfeiçoamento das casas que visito, porque, se isto acontecer, eu também sairei beneficiada, afinal, saberei que, ali, serei bem atendida e comerei feito uma rainha.
Por isso, fiquei super feliz quando a Chef Tássia notou meu desapontamento e me convidou para viver uma nova e autêntica “experiência Pomodori”.
Quem acompanha o programa MasterChef Brasil, viu a “lição de moral” que a Chef Paola Carosella deu na arrogante aspirante a Chef de Cozinha Sandra, quando ela não concordou com os jurados que o bacalhau por ela preparado estava oleoso. Paola falou algo mais ou menos assim: “Eu sou cozinheira profissional há 24 anos. Recebo mensalmente entre 3.000 e 3.500 comensais no Arturito. Se um cliente me chama e reclama que a comida está oleosa, ainda que eu acredite que não está, eu não discuto, eu concordo e digo que vou tentar melhorar”.
Essa é a essência de um verdadeiro Chef. Por mais que se saiba o que está fazendo, a razão de se fazer é entreter e bem receber o cliente, proporcionando um momento de prazer e satisfação ao comer a sua comida.
E foi isso que eu senti quando recebi o convite da Tássia Guimarães, pois, com uma simples atitude, ela se revelou uma profissional completa, demonstrando que, além de se preocupar com a elaboração do cardápio do Pomodori e com a execução minuciosa dos pratos, ela cuida atenciosamente da satisfação dos seus clientes e, principalmente, os respeita. Não importa se eles são ricos, famosos, ocupantes de cargos importantes ou uma pessoa qualquer, basta que sejam clientes e suas opiniões serão levadas em consideração. 
Então, eu fui, mais uma vez, no restaurante que foi escolhido pelos leitores da Veja São Paulo Comer & Beber como o melhor Italiano da cidade em 2014.
Neste momento, eu faço uma advertência. O Pomodori é um restaurante italiano de alta gastronomia. Por isso, não espere encontrar no cardápio, por exemplo, uma Lasagna Bolognesa ou um Spaghetti alla Matriciana. O prato mais tradicional que eu vi no menu foi o clássico romano Spaghetti alla Carbonara. Então, se você nunca comeu uma comida italiana sofisticada, vá preparado para fortes emoções (no bom sentido, claro!).
O menu oferece opções de entradas frias e quentes, mas, assim como da primeira vez, escolhemos o courvet, composto por pães, salame, Parma, antepastos e uma Surpresa da Chef.
Os pães, que anteriormente haviam sido deixados à mesa em pequenas cestas, desta vez, foram trazidos numa imensa cesta e servidos pelo garçom de acordo com a preferência do comensal.    
Eu optei pela focaccia e continuo achando que ela ficaria ainda mais macia e saborosa se estivesse quentinha.
Dos antepastos, a berinjela estava tão macia que se desmanchava na boca e a manteiga clarificada estava perfeitamente aromatizada com ervas.
Para nossa sorte, não tivemos uma, mas duas Surpresas da Chef. A primeira se chamava “Papa Pomodoro” e consistia num molho com generosos tomates sem pele coberto por uma torradinha. Os tomates levemente agridoces estavam com percentual zero de acidez. Para mim, esses tomates teriam ficado um verdadeiro manjar dos deuses se tivessem sido servidos com um pouco de spaghetti fresco ao invés da torrada.


A segunda surpresa foi um Nhoque de batata trufado com nozes e lardo (uma espécie de carpaccio de Panceta). O nhoque era pequenino, extremamente leve e suavemente banhado num molho pesto.


O escolhido como prato principal foi o “Ravióli duplo de cebola caramelizada e queijo grana padano ao molho de verduras”. Aqui, eu preciso dizer uma coisa: nunca havia comido uma massa tão delicada. O ravióli, de fato, é duplo, com uma “bandinha” recheada com cebolas caramelizadas e a outra com queijo grana padano. As duas “bandinhas” são ligadas uma na outra de forma tão peculiar que parecem ser uma coisa só. Eu tentei e acabei conseguindo separar os dois lados para mostrar para vocês.
O sabor é meio inusitado e só será apreciado por quem, assim como eu, gostar da mistura de doce com salgado.



Na hora da sobremesa, compartilhamos uma deliciosa “torta cremosa de banana com doce de leite especial e farofa de amendoim”. Eu tinha imaginado uma torta completamente diferente, com uma massa fina, uma camada inicial de banana, uma camada intermediária de doce de leite e finalizada com um merengue. Mas, na verdade, a torta lembrou uma cuca, com uma fina camada de massa, recheada com banana e finalizada com a farofa de amendoim, servida quentinha com doce de leite e uma delicada bola de sorvete.


Mudar de opinião faz parte da vida, por isso, eu digo: “Pomodori, não foi paixão à primeira vista, mas você me conquistou!”.