sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Comendo em Maceió: SuR Arte Gastronômica

Faz quase 7 anos que juntei as minhas tralhas e me mudei para São Paulo. Hoje, um retorno definitivo para Maceió parece improvável, mas há sempre bons motivos para visitar a minha Terra querida.
Saudosista, uma das coisas que me conforta é saber que os restaurantes que eu costumava frequentar continuam em pleno funcionamento. E uma coisa que me contenta (e muito!) é ver que Maceió está cheia de novidades gastronômicas (até um curso de graduação na área foi aberto!!!).
Se antes havia, no seleto grupo dos meus restaurantes preferidos, o “Massarella” com sua culinária italiana, o “Divina Gula” com comida da roça, o “Wanchako” oferecendo gastronomia peruana com toques nipônicos e o “Le Courbe” com clássicos franceses. Hoje, há o “SuR Arte Gastronômica”, com sua cozinha contemporânea, cheia de técnica, arte, beleza e sabor, reinventando e elevando a outro patamar pratos repletos de ícones da culinária alagoana, como, por exemplo, a tapioca, a macaxeira, a batata doce, a lagosta, a rapadura e o cajá.


No comando da casa, os Chefs Felipe Lacet e Serginho Jucá formam uma dupla infalível. Se o primeiro, concentrado, mantem o foco na finalização dos pratos que saem da cozinha. O segundo, esbanjando simpatia, faz as honras da casa, percorrendo todo o salão cumprimentando os clientes, servindo os pratos e tirando todas as dúvidas.
Com tanta gentileza e atenção, impossível não lembrar do vigésimo auforismo listado por Brillat-Savarin na sua obra “A Fisiologia do Gosto”: “Entreter um convidado é encarregar-se de sua felicidade durante o tempo todo em que estiver sob nosso teto”.


Éramos 7 e não tínhamos reserva. Fomos jantar numa terça-feira e chegamos pouco depois da abertura da casa, que acontece às 20:00 horas. Foi tranquilo conseguir mesa, mas o cenário logo mudou e uma longa fila de espera se formou.
Assim que nos acomodamos, o Chef Sérgio Jucá veio até a mesa e nos ofereceu o aperitivo do dia: pipoca com manteiga de garrafa de limão siciliano e sal grosso. Quem segue o meu Instagram sabe o quanto eu sou aficionada por pipoca, logo, impossível não me deleitar com esse mimo.


O que eu achei mais legal em relação ao cardápio foi a ausência de autoritarismo, pois, ao contrário de outras casas que trabalham com menu degustação, o SuR não condiciona a experiência a todos os comensais sentados à mesa. Assim, é possível que alguns participem do menu e outros façam seus pedidos à la carte.
No meu caso, não poderia ser diferente! Na minha primeira visita, escolhi o menu degustação, que é composto de 3 entradas fixas a escolha dos Chefs, 1 prato principal dentre duas (ou três) opções disponíveis e uma de duas sobremesas possíveis.
O estabelecimento tem uma adega linda e repleta de bons exemplares, mas se orgulha, também, de preparar ótimos drinks, como a deliciosa caipirosca de morango com framboesa e limão siciliano que provei.


Iniciando a degustação, a primeira entradinha servida foi o “Queijo coalho – avelã – azeite verde (queijo coalho tratado como carpaccio)”. Lâminas de queijo coalho maçaricado, servido com molho pesto, tomate, alcaparras, folhas frescas de manjericão e castanhas-de-caju (embora conste avelã no cardápio). Apesar da grande quantidade de elementos, o “carpaccio” ficou bem harmônico, com os complementos conferindo sabor ao sutil queijo coalho.
Acompanhando: torradinhas de brioche com manteiga, levemente adocicada e condimentada, muito parecidas com as oferecidas no “Wanchako”. Uma verdadeira perdição!
Aqui, eu preciso abrir um parêntesis! Em Maceió (não sei se só lá ou, ainda, em outras partes do Brasil), o pãozinho conhecido como brioche é um pouco diferente do tradicional brioche francês, geralmente preparado com frutas e/ou chocolate. O brioche maceioense é um pão de leite bem leve e assado como se fossem dois pãezinhos em um (queria uma foto para mostrar, mas, infelizmente, não tenho).


A entrada seguinte era uma verdadeira obra-de-arte!!! Daquelas que você fica com receio de comer e acabar com a beleza do prato... “Tapioquinha de bacalhau com suas tintas comestíveis (pimentão vermelho, pimentão amarelo, cheiro verde, azeitona e alho)”. O recheio de bacalhau estava incrivelmente cremoso e os molhos davam um sabor a mais à tapioca.
Ao expressar meu encantamento com a apresentação do prato, talvez a mais bela que já vi, o Chef Sérgio Jucá me explicou que a ideia surgiu quando fizeram o serviço de catering no aniversário do pintor alagoano Delson Uchoa. Na ocasião, desenvolveram os molhos e apresentaram ao aniversariante como tintas, para que este pintasse os recipientes onde as guloseimas seriam servidas.



O que vocês acharam do resultado?
Para finalizar as entradas: “Hot-dog de lagosta com maionese de queijo Prima Donna, mostarda Dijon e macaxeira palha”. Para sentir o máximo de sabor, reduzi o pão pela metade, pois o achei um pouco grande. O sabor da lagosta é muito suave e acaba sendo camuflado pelo queijo... e que queijo!!! A robusta maionese de Prima Donna, na minha opinião, rouba a cena. E a macaxeira palha dá um toque crocante ao sanduíche. Esse, sim, pode ser chamado de hot-dog gourmet!!!


Linhas acima, falei que o prato principal poderia ser um “dentre duas (ou três) opções disponíveis”, isso porque, no menu degustação do SuR, o comensal pode escolher entre o “arroz arbóreo cozido num delicioso caldo de frutos do mar e tinta de lula, com camarão, polvo e lula, maioneses de alho e purê de jerimum picante” e o “peito de pato com feijão verde na nata de Major Isidoro, cebola caramelizada e farofa de rapadura picante”. Todavia, quando o garçom descreveu as alternativas, eu fiz uma cara do tipo: “estou muito a fim de participar da degustação, mas nenhuma dessas seria a minha escolha de prato principal”. Aí, ele acabou dizendo que eu também poderia pedir o “filé mignon, demiglace de vinho tinto, mil folhas de tubérculos regionais e creme de parmesão trufado”. E este último foi o selecionado.
A carne estava suculenta e extremamente macia. Nem preciso dizer que o demiglace de vinho tinto caiu como uma luva, harmonizando perfeitamente com o filé. O creme de parmesão trufado estava de comer rezando (ainda que a culinária francesa esteja meio fora de moda, eu adoro os seus molhos gordurosos e encorpados). Já o mil folhas, que era de batata doce, decepcionou um pouco (e olhe que eu A-M-O batata doce!). Para o meu paladar, teria sido melhor uma porção de batata doce gratinada no creme de parmesão, pois as fatias super finas e sobrepostas do tubérculo, formando o mil folhas, não deixavam o grosso molho penetrar, o que fez com que eles parecessem 2 acompanhamentos ao invés de um só.


De sobremesa, haviam duas opções. Como a minha mãe também estava apreciando o menu degustação, combinamos de cada uma pedir uma sobremesa e dividirmos.
Eu fiquei com o doce “Só – quero – chocolate” (“O” bolo de chocolate com sua calda de brigadeiro, cookies e sorvete de chocolate”). Uma verdadeira tentação, com contraste de texturas, sabores e temperatura. A fofura do bolo com o crocante da farofa de cookies; o doce do brigadeiro balanceado por grãos de sal; o quente do brigadeiro com o gelado do sorvete... Brigadeiro é o doce que eu mais amo no mundo. Logo, aprovei de cara essa sobremesa.


Minha mãe ficou com a “Romeu e Julieta em diferentes finais: bolo de rolo com sorvete de goiaba, calda de goiabada, goiabada cascão, queijo do reino ralado, iogurte grego e catupiry quente”. Eu achei a descrição mais interessante do que a sobremesa em si. Achei que a composição pecou pelo excesso e, embora os elementos tivesse a mesma base (a goiabada), eles não formaram um todo. Pareciam, simplesmente, vários ingredientes dispostos em um único prato... sei lá... Para mim, não ornou!


Acharam que eu ia esquecer de falar sobre o atendimento? Jamais!!! Afinal, é primoroso!!! Com garçons bem preparados, conhecendo bem o cardápio e demonstrando alegria em estarem ali trabalhando e lhe servindo. Fiquei muito orgulhosa de encontrar esse padrão de atendimento na minha Terrinha.
No SuR Arte Gastronômica, assim como um pintor sabe quais linhas traçar e que cores utilizar para obter uma obra-prima; assim como um compositor tem o dom de unir notas musicais compondo belas melodias; os Chefs conhecem os ingredientes que utilizam e sabem como combiná-los para obter o máximo de beleza e, principalmente, de sabor, oferecendo aos clientes deliciosas obras comestíveis. Um concorrente de peso ao posto de melhor restaurante da cidade.
Será parada obrigatória nas minhas próximas idas a Maceió ;o)

INFORMAÇÕES:
SuR Arte Gastronômica
Rua Professora Maria Esther da Costa Barros, 306/320 – Stella Maris
Fone: (82) 9110-2337 e (82) 9678-1687
      


sábado, 3 de janeiro de 2015

Comendo em Maceió: DIVINA GULA

É uma vergonha que meu blog já tenha ultrapassado um ano de existência e que eu já tenha escrito sobre restaurantes de São Paulo, Nova York, Buenos Aires, Córdoba (Argentina), Richmond (EUA), Wintergreen (EUA) e Charlottesville (EUA), mas não tenha contemplado os estabelecimentos gastronômicos da minha terrinha.
Agora, está mais do que na hora de corrigir esse erro!!!
Eu tenho certeza de uma coisa: ninguém duvida que Maceió tenha uma das orlas mais bonitas do Brasil. Entretanto, o que nem todos sabem é que esta terra de sol escaldante e praias deslumbrantes também conquista os seus visitantes pelo paladar.
São milhares de barraquinhas que vendem tapiocas de sabores tradicionais (como a de queijo com coco) e inusitados (como a de carne seca com queijo coalho), carrinhos que preparam o acarajé de um jeito próprio (recheado com camarão sem casca e molho de tomate), bares que servem diversos petiscos e frutos do mar locais (como o siri despinicado e o sururu) e restaurantes dedicados às mais variadas culinárias nacionais e internacionais.
Hoje, irei falar sobre o Divina Gula, um restaurante e cachaçaria que eu costumava ir com uma certa frequência, fosse no Happy Hour de quinta-feira, com os meus amigos, ou no almoço de domingo, com a minha família.
A casa abriu as suas portas em 1988 e se tornou uma das queridinhas de Maceió, em razão dos pratos e drinks bem executados, da boa localização no Stella Maris, do ambiente rústico, agradável e bem decorado e do excelente custo benefício.
Na cozinha do Chef André Generoso, é preparada uma comida mineira com toques nordestinos. Assim, no cardápio, embora haja boas opções de frutos do mar, a roça rouba a cena, oferecendo ao comensal tutu de feijão, costelinha de porco, leitão à pururuca, carne de sol, atolados, feijão tropeiro, torresmo, linguiça, frango com quiabo, couve, angu de fubá e muitas outras delícias. Tudo no capricho, exalando tempero, aroma e sabor.
Tanto as entradinhas quanto os pratos principais são bem servidos, podendo ser facilmente compartilhados. Se você estiver com um grupo grande, aproveite para dividir porções variadas. Assim, conseguirá provar um número maior de guloseimas.
Seja no almoço ou no jantar, antes de tomar uma latinha de coca zero, que é o meu grande vício, gosto de degustar um drink, que não precisa necessariamente ser alcoólico, mas, com certeza, tem que ser bem refrescante. No caso do Divina Gula, cheguei sabendo exatamente o que iria beber: uma tangirosca (caipirosca frozen de tangerina).


Nos acabamos nas entradinhas: pedimos 3 para dividir. E, não satisfeita, ainda pedi um caldinho de feijão bem encorpado, sem torresmo, para iniciar os trabalhos (R$ 6,50).


Rodrigo Oliveira, Chef do Mocotó, é o criador dos deliciosos dadinhos de tapioca, que rapidamente conquistaram o paladar dos brasileiros. No Divina Gula, o Chef é homenageado com os “Tijolinhos de tapioca com queijo coalho” (R$ 19,00), uma massa pegajosa de tapioca granulada com queijo coalho, cortada em quadrados que são fritos e servidos com mel apimentado. Verdadeiros pedacinhos do céu.


Outra entrada de arrancar suspiros é o “Atolado de Carne de Sol” (R$ 30,00), montado com carne de sol refogada sobre purê de macaxeira coberto com catupiry. A carne cortada em cubinhos, bem temperada e se desmanchando na boca de tão macia, forma uma composição bem harmoniosa e extremamente saborosa com o purê e o catupiry cremosos.


E o terceiro petisquinho que devoramos foi um queijo coalho na chapa, salpicado com pipoca de alho (uma espécie de “alho bits”) e servido com pão de alho (R$ 20,90). Uma explosão crocante de sabor!


Para a minha tristeza, retiraram do menu o prato que eu sempre pedia, a “Picanha Napolitana”, que era composta de fatias de picanha cozidas e servidas no tacho, cobertas com rodelas de tomate e queijo mussarela, polvilhadas com orégano.
Eu queria pedir o “Tutu à Mineira” (R$ 65,00), composto por tutu de feijão batido, acompanhado de linguiça caseira, bife de pernil, couve, torresmo, banana à milanesa e arroz. Todavia, minha irmã, com quem combinei de dividir o prato, preferiu a “Carne de sol desfiada com tutu” (R$ 65,00), combinado de carne de sol desfiada e acebolada com tutu à mineira, couve, torresmo e arroz. O tutu estava denso e temperado na medida certa, entretanto, achei a carne um pouco ressecada.


Um prato bacana e bem farto para quem deseja viajar pelos encantos da culinária mineira é o “Amostrado”, que serve 3 pessoas, custa R$ 67,00 e é formado por pequenas porções de tutu à mineira, feijão tropeiro, couve, arroz de alho, linguiça caseira, costela de porco, bife suíno, frango com quiabo, torresmo, farofa de milho com cebola, angu e jiló na chapa.


Quem quer comer bem em Maceió, não pode deixar de visitar o Divina Gula, que, além de restaurante e cachaçaria, já se tornou uma deliciosa atração turística da cidade.

INFORMAÇÕES:
Divina Gula
Av. Engenheiro Paulo Brandão Nogueira, 85 – Jatiúca
Fone: (82) 3235-1016
(Fechado às segundas-feiras)