Durante toda a nossa existência, nos deparamos com
conflitos entre o produto do nosso cérebro e as razões do nosso coração. E,
nesta prosa que eu vou contar agora, não foi diferente. Estávamos indo passar o
Carnaval no Uruguai. Seriam dois dias em Punta del Este e dois dias em
Montevidéu. Então, um tanto desestimulada (o que é bem raro, principalmente, quando
estamos falando de viagem e gastronomia), fui procurar as atrações turísticas e
os restaurantes que gostaria de conhecer.
Não tardou até que eu me deparasse com o "La Bourgogne",
único restaurante de Punta del Este na lista dos 50 melhores da América Latina
do periódico inglês Restaurant. Porém, em meio à crise financeira por que passa
o nosso País, embora eu tivesse ficado louca para degustar as delícias
francesas preparadas pelo Chef Jean Paul Bondoux, meu cérebro começou a me
boicotar, sugerindo que seria melhor poupar essa grana. Assim, meio
contrariada, acabei nem tentando fazer a reserva.
Já em Punta, o "inesperado" aconteceu. Aos
46 minutos do segundo tempo, como num golpe de sorte, meu coração levou uma
rasteira do meu cérebro, dentro da área, e um pênalti foi marcado em seu favor.
Com o placar final de "1 X 0", decidi: “Já que aqui estou, não vou
perder a oportunidade, vou conhecer o sofisticado e badalado La Bourgogne”.
Sem agendamento, preferi ir almoçar, pois imaginei que
seria mais tranquilo conseguir mesa na hora do almoço do que na do jantar. E
realmente não tivemos problemas. Chegamos, no domingo de Carnaval, por volta
das 14:00 horas e havia apenas um casal no estabelecimento.
Sentamos no agradável terraço, com vista para o
gracioso jardim.
O desfile de Alta Gastronomia não demorou a se
apresentar sobre a nossa mesa. Inicialmente, serviram um mousse de banana verde
com gelatina de cebolete, finalizado com sour cream e caviar. No começo, achei
estranho, mas, como não sou de me intimidar facilmente, fui desbravando a minha
entradinha e, no final, acabei achando o resultado encantador.
Em seguida, pães, manteiga aromatizada com salmão, patê
de wasabi e legumes perfumados foram postos na nossa frente. Os pães estavam
extremamente frescos e macios; os legumes eram levemente cozidos e adocicados;
o patê, por incrível que pareça, além de cremoso, exalava sabor; a manteiga,
todavia, era intragável. Eu e o Daniel adoramos um pãozinho quente com
manteiga, mas não conseguimos comer a manteiga servida, que tinha um gosto horrível
de peixe.
Depois, fui ao paraíso. Petit fours amanteigados,
quentinhos, deliciosos e que se desmanchavam na boca foram servidos nos sabores
queijo, azeitona e gergelim. Eu torci para que o Daniel não comesse os dele e
eu pudesse abocanhá-los. Mas ele também não resistiu!!!
A casa não tem carta de coquetéis, mas eu pedi uma
capiroska de morango e eles prepararam pra mim.
Na hora de escolher o prato principal, uma surpresa: o
meu cardápio não exibia o preço das comidas, embora o do Daniel o fizesse.
Fiquei encucada, mas pensei que eles tinham esquecido de pôr os preços no menu
que me foi entregue. Só quando os cardápios das sobremesas chegaram, eu constatei
que não havia esquecimento algum, só os homens podem saber quanto vão pagar
pelo que irão comer.
O restaurante tem mais de 30 anos de existência e,
talvez, quando foi inaugurado, fosse polido e cavalheiresco esse comportamento,
mas em pleno Século XXI? Achei constrangedor ter que ficar perguntando ao meu
marido quanto custava o prato que eu queria pedir.
Vejam: o cardápio masculino tem uma fita azul; o
feminino, uma rosa.
A tática do restaurante acabou funcionando, pois
escolhi um dos pratos mais caros do menu: lagosta em infusão de vanilla,
abacaxi assado, arroz com leite de coco aromatizado com curry e limão. Porém, eu
confesso: valeu cada centavo dos R$ 280,00 que eu paguei!!! Carnuda, macia e
perfumada, a lagosta estava no ponto certo de cozimento (zero por cento
borrachuda). O arroz em estilo tai, de tão bom, dava para ser comido como um
risoto de prato principal e não apenas como acompanhamento. Pediria de novo sem
receio algum... simplesmente S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!!! Um dos melhores pratos
que já comi.
O Daniel pediu o “Duo d’Agneau Méridional” (duo de
cordeiro), prato que está no cardápio a mais de 30 anos e também é de comer
rezando.
De sobremesa, fizemos uma degustação de creme brûlée
nos sabores chocolate, baunilha, café, pistache e maracujá. Apesar do creme de
pistache ter um sabor meio artificial de essência e não da fruta seca, todos os
cremes estavam divinos. Eu e o Daniel raspamos todos os potinhos. E eu ainda
devorei parte da decoração: frutas vermelhas com açúcar e caramelo.
Para encerrar com chave de ouro, o café foi servido
com petit four, tartelete de limão, trufa de chocolate e cascas de laranja
cristalizadas.
O excelente atendimento, os pratos bem executados e saborosíssimos,
e o ambiente aconchegante justificam o preço,
que, mesmo achando elevado (pagamos 269 dólares americanos), você pagará com a certeza de ter apreciado uma das
melhores refeições da sua vida.
INFORMAÇÕES:
La Bourgogne
Pedragosa Sierra s/n. y Av. del Mar
20100 Punta del Este – Maldonado
Tel.: + 598 (0)42
4820 07
Fax: + 598 (0)42
4878 73
E-mail: bourgogne@relaischateaux.com