Tem
certos restaurantes que, quanto mais a gente lê a respeito, maior vai se
tornando a vontade de conhecê-lo. Assim aconteceu comigo e o Epice, pois todos
os críticos qualificavam o Chef Alberto Landgraf como um pesquisador
incansável, brilhante e criativo. E, de fato, a ousadia do cozinheiro é elevada
o suficiente para te transportar a outra dimensão, onde a comida é exótica, mas
deliciosa. Utilizando técnicas da gastronomia molecular, Alberto Landgraf
surpreende os comensais com pratos ricos em texturas e sabor.
O
restaurante é um tanto acanhado, quase imperceptível por quem transita pela Rua
Haddock Lobo. No seu interior, uma decoração clean. Um painel de quadros
coloridos, um ao lado do outro, tenta ganhar visibilidade, contudo, com o pé
direito alto e as paredes brancas do salão, a composição aparece, no entanto, sem
se destacar. Há um bonito bar na entrada e as mesas são perfeitamente dispostas
no salão estreito e retangular.
O
atendimento é primoroso, com garçons simpáticos, educados e solícitos, que
conhecem bem o cardápio, todavia, que precisariam saber um pouquinho mais sobre a
preparação dos pratos. Eu sei! Eu sei que só são chatos como eu que perguntam
como as coisas são preparadas. Mas há pessoas assim, curiosas, é fato. E, num
restaurante sofisticado e de valor elevado, queremos obter as respostas para
todas as nossas perguntas. Até encontrarmos um chef esnobe, que mande a gente
calar a boca e comer... kkkkkkk. Graças a Deus, isso nunca aconteceu
comigo. E espero que não aconteça, pois acho perfeitamente natural se a pessoa
gostar de algo e perceber que foi preparado de uma maneira que foge do
tradicional, ela procurar saber como foi feito.
Antes
de começar a falar sobre as comidas, vou explicar como funciona o cardápio.
Normalmente, analisando os menus, encontramos o nome do prato, seguido do
preço, e, embaixo, a sua descrição. No Epice, os pratos não ganham um nome de
impacto (ou, talvez, alguns considerem que assim o seja), eles são apresentados,
na verdade, pelo ingrediente principal e, abaixo, segue a sua descrição. Vou
colocar umas fotos para vocês compreenderem melhor o que eu digo ;o)
Estávamos
em 5 pessoas e, apesar de não termos optado pelo menu de preço fixo (10 pratos
por R$ 320,00), participamos de um verdadeiro banquete, composto pelo couvert,
3 entradas, 1 prato principal para cada comensal e 2 sobremesas.
O
couvert é bem simples, mas não deixa de ter o seu charme. Dois tipos de pães
artesanais chegam quentinhos à mesa. Um tem a aparência de mini cinnamon roll,
mas, na verdade, é um pão enrolado com "patê" de azeitona. O outro
lembra um brioche bem fofinho. Para benzuntar os fermentados, há azeite extra
virgem, manteiga Roni e flor de sal.
Como
falei anteriormente, compartilhamos 3 entradas. A primeira delas foi a
"Carne Crua" (R$ 35,00), entrecôte angus fatiado, ovo de codorna,
farelo de pão e mostarda. Pelo fato da carne ser servida crua e conter mostarda
na sua composição, pensei que teríamos algo parecido com um carpaccio. Mas as
semelhanças pararam por aí. O corte é entrecôte, e não lagarto; as fatias são
grossas, e não finíssimas. A farofa é crocante e saborosa. Os ovinhos têm a
gema mole. Não senti o gosto da mostarda. E, mesmo misturando tudo, achei uma
comida meio sem graça, sem tempero, sem tchan.
Nossa
segunda entradinha foi "Batata Doce" (R$ 31,00), tubérculo que amo.
Num prato fundo, foram servidos batata doce assada, tutano, emulsão de manteiga
e batata doce seca. O contraste de texturas das batatas assada e chips (a
seca), junto com a emulsão temperada com cebolete, resultou num prato
diferente, adocicado e apetitoso.
A
última entradinha que provamos foi "Alho poró e avelãs" (R$ 31,00),
alho poró, purê de limão, vinagrete de avelãs e farelo de avelãs. Eu até gosto
de risoto, quiche e molho de alho poró, mas comer o talo como estrela do prato
soou bem estranho. Se não fossem as minhas companheiras de jantar,
provavelmente eu jamais teria escolhido tal iguaria e, por consequência, teria
me privado de um sabor sublime e maravilhoso, que nunca imaginei que o alho
poró pudesse ter. Ele foi a surpresa da noite, extremamente macio, balanceado e
delicioso.
De
prato principal, as opções eram: robalo (R$ 89,00), polvo grelhado (R$ 93,00),
pé de porco (R$ 85,00), costela de leitão (R$ 89,00), peito de frango orgânico
(R$ 85,00) e entrecôte (R$ 95,00).
Fiquei
com a última opção: entrecôte "Aberdeen Angus", purê de batata,
cenoura braseada e creme de manteiga. O entrecôte parecia um filé mignon, fácil
de cortar e de mastigar. Com o cozimento
perfeito, um tanto rosado e esbanjando suculência. O purê era consistente e
muito saboroso.
Eu sou
uma verdadeira coelhinha. Sou capaz de comer cenoura a qualquer hora e sob
qualquer forma (crua, cozida, assada ou frita). Adoro! E fiquei completamente
apaixonada por esta cenoura, adocicada e quase pastosa, embora servida inteira.
Eu precisava saber como ela tinha sido feita! O garçom não soube me explicar
direito, mas, para a minha sorte, o souschef estava passando pela minha mesa e
o garçom o chamou. Ele, super simpático e atencioso, me explicou que as cenouras são enroladas no papel
alumínio com sal e bastante manteiga de garrafa, e assadas. Não são cozidas
antes! Vão direto para o forno no papelote. Uauuuu... Apaixonei-me pelo meu prato!!!
Na
hora da sobremesa, novo "lanche coletivo", pedimos duas para dividir.
Uma delas foi a "Pêra" (R$ 35,00), compota de pêra, burrata de búfala,
tomilho limão e mel de uruçu.
A
burrata é um queijo cremoso, mas cujo sabor precisa ser incrementado com
especiarias e outros ingredientes. Como entrada, em geral, ela é servida com
tomate picado e temperada com azeite e manjericão. Na sobremesa, faltou esta
pitada de sabor. A pêra apresentou uma consistência interessante, mas não tinha
calda, e a quantidade do mel de uruçu não foi suficiente para aromatizar a
burrata. Conclusão: as curvas da pêra até imprimiram uma certa beleza à
criação, que ficou bonitinha, porém, ordinária.
Ainda
bem que havia o "Chocolate" (R$ 35,00) para finalizar a noite com
chave de ouro. Na cumbuca, sorbet de chocolate, aveia caramelizada, merengue de
baunilha e creme de cacau. No melhor estilo da culinária molecular, os opostos
interagiram, oferecendo num único prato o doce e o salgado, o quente e o
gelado, o crocante e o cremoso. Uma verdadeira explosão de gostos e sensações.
A
comida revela alguns tropeços do chef, é verdade. Todavia, se falta um toque de
magia em alguns pratos, em outros transborda perfeição, com a transformação de
ingredientes incomuns em pratos sofisticados e encantadores, cheios de
contrastes de texturas, cores e sabores.
Este
restaurante, certamente, honra a estrela Michelin que ostenta. E, por isso,
merece os meus aplausos e o meu retorno.
INFORMAÇÕES:
O restaurante fechou as portas!
O restaurante fechou as portas!
Funcionava na Rua
Haddock Lobo, 1002 – Jardim Paulista;
E tinha o seguinte número de telefone:
(11) 3062-0866.
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que praticam a gastronomia molecular:
Tegui (Buenos Aires);
Aramburu (Buenos Aires).