A culinária francesa, com seus molhos encorpados e gordurosos, me encanta.
O jeito como a culinária japonesa se adequou ao paladar do brasileiro me agrada
bastante. Quanto à extensa e diversa culinária brasileira, eu indago: tem como
não se orgulhar? Feijoada, acarajé, moqueca, tapioca, carne de sol, pão de
queijo e cia. Mas... Eu não posso mentir, a minha preferida é a culinária
italiana.
É difícil ter um recheio que não fique bom na massa de pizza ou um molho
que não harmonize com um espaguete ou um fettuccine.
Durante grande parte de minha vida, eu daria tudo para que o meu almoço
fosse uma farta lasanha bolonhesa, com bastante molho de tomate, molho branco e
carne moída. Ou um belo espaguete com molho branco em sua essência, mas repleto
de queijos na sua composição.
E é aqui que entra em cena o meu marido, com sua descendência italiana e
seu gosto pela gastronomia, para moldar o meu paladar.
Quando ainda namorávamos, o Daniel preparou uma massa caseira para mim.
Quando eu digo que ele preparou, eu quero dizer que ele pegou a farinha, o sal
e o ovo, misturou tudo, fez o espaguete e me mostrou com uma massa fresca é
infinita melhor do que uma massa comprada pronta, ainda que essa massa seja da
Barilla ou de outra marca conceituada no mercado. É lógico que eu já havia
comido massa fresca em restaurantes, mas ninguém nunca havia aguçado os meus
sentidos com o intuito de exibir o real sabor de uma massa artesanal.
E foi aí que eu entendi que molhos são feitos para complementar, mas não
para mascarar o sabor do prato, como bem disse o premiado Chef inglês Michael
Roux, na introdução do livro “Receitas de Molhos”: “Os molhos são a alquimia do
cozinheiro, incrementando os pratos com os quais são servidos de forma mágica e
extraordinária. Eles devem, porém, ser muito bem escolhidos, de forma a
enfatizar os sabores do prato sem sobrepujá-los de nenhuma maneira. Um molho
cuidadosamente preparado vai se integrar ao prato, tornar-se parte dele.”
Hoje, por mais que adore um
molho, eu quero sentir o sabor do espaguete, do fettuccine, do bucatini etc, pois
essa é a verdadeira essência de um bom prato de massa.
E foi justamente por esse gosto que eu desenvolvi que amei a “Osteria de
Pettirosso”, bicampeã na categoria “Melhor Cantina/Trattoria” (2013 e 2014) do
guia Veja São Paulo Comer e Beber.
A casa é comandada pelo Chef Marco Renzetti, que prepara clássicos de
sua terra natal, a capital italiana, Roma.
O cardápio é dividido em 2 opções: o “Menu Tradizione”, com prato
romanos, nos quais o Chef não altera uma vírgula da receita; e o “Menu
Fantasia”, onde o Chef expressa a sua criatividade em criações próprias. O
cardápio segue a tradição italiana, indicando opções de primeiro
(essencialmente massas) e de segundo prato (pratos mais robustos com proteína).
Mas eu acredito que sejam poucas as pessoas que pedem dois pratos. Afinal, no
Brasil, somos acostumados, exceto quando optamos por menu degustação, a pedir
apenas um prato principal.
Numa segunda-feira, através do site do próprio restaurante (http://www.pettirosso.com.br/permita-se-uma-experiencia/), fiz a reserva para ir jantar no sábado seguinte. Aguardei por um
e-mail de confirmação, mas como ele não chegou, na quinta, liguei para
confirmar, pois, como o restaurante está disputadíssimo, imaginei que minha
reserva talvez não tivesse sido realizada por indisponibilidade de mesa. Mas,
felizmente, o atendente confirmou que a mesa estava garantida.
A minha noite começou com o pé esquerdo, pois o “Bloody Mary” que eu
pedi veio com duas argolas plásticas de lacrar garrafas de bebidas dentro do
drink. Inicialmente, achei que fosse algo utilizado como decoração, mas quando
olhei mais de perto, vi o que era. Pedi que o garçom trocasse e, depois, fiquei
com aquela dúvida rotineira: será que ele levou até o barman, que tirou as
argolas, complementou o drink e mandou o mesmo de volta à mesa? O drink novo,
ao contrário do primeiro, tinha sal na borda do copo. Mas... quem garante que
não foi apenas uma troca de copo? Enfim... como eu já bebi, melhor não pensar
muito nesse “pequeno” detalhe. Abaixo, estou colocando uma foto da versão
“premiada” do drink para vocês não acharem que estou de conversa mole (rsrsrs).
Nós pedimos duas entradinhas: a “Polenta e Spuntature” (pequenina porção
de polenta ao molho de costela suína, toscana, tomate e funghi) e a “Insalata
Mediterrânea” (mix de folhas, ervas, tomate confit e burrata). A polenta estava
muito cremosa e o molho bem executado, mas confesso que não senti gosto nenhum
de funghi. A salada estava montada de forma graciosa e a burrata, bem pastosa, compôs
uma alquimia perfeita com o mix de folhas.
De prato principal, escolhi o “Tonnarelli fini alla Carbonara”. Uma
massa fresca, com cozimento adequado, servida com o clássico molho à base de
ovos, queijo pecorino e pancetta. Embora o molho estivesse um pouquinho
apimentado (estou melhorando... mas ainda continuo bem sensível à pimenta), eu
adorei o meu prato, que parece fácil de fazer, mas demanda certos cuidados para
que resulte numa considerável explosão de sabores.
Aqui, eu abro um parêntesis para dizer que os embutidos são preparados
na casa. Seguindo a tradição italiana, eles não usam embutidos defumados, como
o bacon. Utilizam a pancetta, que, assim como é o bacon, provem da barriga do
porco. No entanto, enquanto o banco é defumado, a pancetta é curada com sal e
pimenta do reino.
A minha irmã e o meu cunhado dividiram o “Fettuccine Imperiali”, que
custa R$ 110,00, mas serve duas pessoas. O prato nada mais é do que o
tradicional “Fettuccine Alfredo”, preparado com esmero pelo Chef, que vai até a
mesa finalizar a mistura perfeita de apenas queijo parmesão e manteiga (nada de
creme de leite). Eu provei e achei essa massa simplesmente S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L.
Na hora da sobremesa, fiquei em dúvida entre o “Sformatino di polenta e
miele alla sambuca, ricota bruciatta” (pequena torta doce de polenta, mel e ricota
fresca assada) e o “Crema pasticcera com salsa alla frutta, Meringa, fragoline
di bosco e pralina di nocciola” (creme pasteleiro, calda de frutas cítricas,
suspiro, moranguinhos silvestres italianos e pralina de avelã). Estava mais
inclinada a escolher a segunda opção, mas como o garçom falou que tinha manga
na parada, acabei preferindo a primeira, que era um bolinho quente de milho,
com massa aerada, servido com mel e um pedaço de ricota.
Meu cunhado pediu o Tiramisù. Como não provei, não sei dizer se estava
bom. Mas achei bela e criativa a apresentação, por isso, resolvi colocar a foto
para vocês verem.
A charmosa cantina dos Jardins proporciona ao paladar do comensal uma
verdadeira viagem aos clássicos romanos. A massa é cozida no ponto certo e os
molhos são meticulosamente preparados com ingredientes frescos, que transbordam
qualidade e sabor.
Só achei que os garçons poderiam ser mais preparados. Eu reconheço que
faço perguntas que poucos clientes fazem, como, por exemplo, a diferença entre
o bacon, a pancetta e o guanciale. Uma pergunta que eu até aceito que o garçom não
saiba responder, embora acredite que deveria, já que trabalha num restaurante
que se orgulha dos embutidos que produz. Agora, eu perguntar como funciona o “Menu
Degustação” e o garçom dizer que a casa não oferece este serviço é inaceitável!
O profissional tem que conhecer as experiências que a casa oferece. Como eu
insisti, pois tinha visto na Vejinha que o restaurante oferece o serviço, mas
não tinha entendido direito como funciona, o rapaz chamou o Sra. Erika, esposa
do Chef, que me explicou que, para vivenciar a degustação, é preciso, no
momento da reserva, informar que quer fazê-la, assim o Chef irá deixar tudo
encaminhado para o grande dia.
Quero voltar e provar o “Menu Degustação”... já imaginou um monte de
pratos de massas desfilando pela mesa? Deve ser sensacional!
INFORMAÇÕES:
Osteria del Pettirosso
Alameda Lorena, 2.155
Fone: (11) 3062-5338 e (11) 3062-4531
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