O mundo está em constante evolução e
transformação. Então, por que nós, fatores fundamentais desta metamorfose
universal, precisamos nos manter imutáveis? Se até mesmo a ciência se contradiz a
todo momento, quem sou eu para formar uma opinião definitiva sobre um
restaurante baseada em apenas uma experiência?
Quem acompanha o meu blog, viu que em setembro
eu tive uma experiência meio frustrante no restaurante Pomodori. Que o garçom
não soube me explicar direito como era uma das massas do cardápio e eu acabei
pedindo um prato que não gostei.
Após o jantar, confesso que fiquei numa dúvida
angustiante sobre escrever ou não escrever. Eu tinha amado o “Ravióli al Limone”
servido como “Surpresa da Chef” no couvert, aprovado o atendimento desde o
momento em que liguei para fazer a reserva e me encantado com a decoração ao
estilo de uma Cantina chique. Será que valeria "detonar" o
restaurante por uma falta de sorte na escolha do drink e do prato principal?
Certo dia, acordei decidida a escrever.
Dirigi-me ao computador e acabei com aquele “martírio”. E, hoje, eu vejo que
não poderia ter feito uma escolha melhor. E vou contar o porquê.
O meu objetivo, ao criar este blog, nunca foi
simplesmente criticar um restaurante com o intuito cego de levá-lo à falência.
Até porque seria muita pretensão da minha parte achar que um estabelecimento
gastronômico mudaria seu status quo
unicamente porque escrevi sobre ele. A minha intenção sempre foi narrar de
maneira fidedigna as minhas experiências gourmet. Contando de forma detalhada
as minhas impressões quanto ao atendimento, à decoração e, principalmente, à
comida. Tudo isto para que o leitor tenha informações suficientes para decidir
se quer conhecer o lugar.
No entanto, o meu desejo também é contribuir, se
possível, através de observações construtivas, com o crescimento e
aperfeiçoamento das casas que visito, porque, se isto acontecer, eu também
sairei beneficiada, afinal, saberei que, ali, serei bem atendida e comerei
feito uma rainha.
Por isso, fiquei super feliz quando a Chef
Tássia notou meu desapontamento e me convidou para viver uma nova e autêntica “experiência
Pomodori”.
Quem acompanha o programa MasterChef Brasil, viu
a “lição de moral” que a Chef Paola Carosella deu na arrogante aspirante a Chef
de Cozinha Sandra, quando ela não concordou com os jurados que o bacalhau por
ela preparado estava oleoso. Paola falou algo mais ou menos assim: “Eu sou
cozinheira profissional há 24 anos. Recebo mensalmente entre 3.000 e 3.500
comensais no Arturito. Se um cliente me chama e reclama que a comida está oleosa,
ainda que eu acredite que não está, eu não discuto, eu concordo e digo que vou
tentar melhorar”.
Essa é a essência de um verdadeiro Chef. Por
mais que se saiba o que está fazendo, a razão de se fazer é entreter e bem
receber o cliente, proporcionando um momento de prazer e satisfação ao comer a
sua comida.
E foi isso que eu senti quando recebi o convite
da Tássia Guimarães, pois, com uma simples atitude, ela se revelou uma profissional
completa, demonstrando que, além de se preocupar com a elaboração do cardápio
do Pomodori e com a execução minuciosa dos pratos, ela cuida atenciosamente da
satisfação dos seus clientes e, principalmente, os respeita. Não importa se
eles são ricos, famosos, ocupantes de cargos importantes ou uma pessoa qualquer,
basta que sejam clientes e suas opiniões serão levadas em consideração.
Então, eu fui, mais uma vez, no restaurante que
foi escolhido pelos leitores da Veja São Paulo Comer & Beber como o melhor
Italiano da cidade em 2014.
Neste momento, eu faço uma advertência. O
Pomodori é um restaurante italiano de alta gastronomia. Por isso, não espere
encontrar no cardápio, por exemplo, uma Lasagna Bolognesa ou um Spaghetti alla
Matriciana. O prato mais tradicional que eu vi no menu foi o clássico romano
Spaghetti alla Carbonara. Então, se você nunca comeu uma comida italiana
sofisticada, vá preparado para fortes emoções (no bom sentido, claro!).
O menu oferece opções de entradas frias e
quentes, mas, assim como da primeira vez, escolhemos o courvet, composto por pães,
salame, Parma, antepastos e uma Surpresa da Chef.
Os pães, que anteriormente haviam sido deixados
à mesa em pequenas cestas, desta vez, foram trazidos numa imensa cesta e
servidos pelo garçom de acordo com a preferência do comensal.
Eu optei pela focaccia e continuo achando que
ela ficaria ainda mais macia e saborosa se estivesse quentinha.
Dos antepastos, a berinjela estava tão macia que
se desmanchava na boca e a manteiga clarificada estava perfeitamente
aromatizada com ervas.
Para nossa sorte, não tivemos uma, mas duas
Surpresas da Chef. A primeira se chamava “Papa Pomodoro” e consistia num molho
com generosos tomates sem pele coberto por uma torradinha. Os tomates levemente
agridoces estavam com percentual zero de acidez. Para mim, esses tomates teriam
ficado um verdadeiro manjar dos deuses se tivessem sido servidos com um pouco
de spaghetti fresco ao invés da torrada.
A segunda surpresa foi um Nhoque de batata
trufado com nozes e lardo (uma espécie de carpaccio de Panceta). O nhoque era
pequenino, extremamente leve e suavemente banhado num molho pesto.
O escolhido como prato principal foi o “Ravióli
duplo de cebola caramelizada e queijo grana padano ao molho de verduras”. Aqui,
eu preciso dizer uma coisa: nunca havia comido uma massa tão delicada. O
ravióli, de fato, é duplo, com uma “bandinha” recheada com cebolas
caramelizadas e a outra com queijo grana padano. As duas “bandinhas” são
ligadas uma na outra de forma tão peculiar que parecem ser uma coisa só. Eu tentei
e acabei conseguindo separar os dois lados para mostrar para vocês.
O sabor é meio inusitado e só será apreciado por
quem, assim como eu, gostar da mistura de doce com salgado.
Na hora da sobremesa, compartilhamos uma deliciosa “torta cremosa de
banana com doce de leite especial e farofa de amendoim”. Eu tinha imaginado uma
torta completamente diferente, com uma massa fina, uma camada inicial de banana,
uma camada intermediária de doce de leite e finalizada com um merengue. Mas, na
verdade, a torta lembrou uma cuca, com uma fina camada de massa, recheada com
banana e finalizada com a farofa de amendoim, servida quentinha com doce de
leite e uma delicada bola de sorvete.
Mudar de opinião faz parte da vida, por isso, eu digo: “Pomodori, não foi paixão à primeira vista, mas você me
conquistou!”.
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