Faz quase 7 anos que juntei as minhas
tralhas e me mudei para São Paulo. Hoje, um retorno definitivo para Maceió
parece improvável, mas há sempre bons motivos para visitar a minha Terra
querida.
Saudosista, uma das coisas que me
conforta é saber que os restaurantes que eu costumava frequentar continuam em
pleno funcionamento. E uma coisa que me contenta (e muito!) é ver que Maceió
está cheia de novidades gastronômicas (até um curso de graduação na área foi
aberto!!!).
Se antes havia, no seleto grupo dos
meus restaurantes preferidos, o “Massarella” com sua culinária italiana, o
“Divina Gula” com comida da roça, o “Wanchako” oferecendo gastronomia peruana com
toques nipônicos e o “Le Courbe” com clássicos franceses. Hoje, há o “SuR Arte
Gastronômica”, com sua cozinha contemporânea, cheia de técnica, arte, beleza e
sabor, reinventando e elevando a outro patamar pratos repletos de ícones da
culinária alagoana, como, por exemplo, a tapioca, a macaxeira, a batata doce, a
lagosta, a rapadura e o cajá.
No comando da casa, os Chefs Felipe
Lacet e Serginho Jucá formam uma dupla infalível. Se o primeiro, concentrado,
mantem o foco na finalização dos pratos que saem da cozinha. O segundo, esbanjando
simpatia, faz as honras da casa, percorrendo todo o salão cumprimentando os
clientes, servindo os pratos e tirando todas as dúvidas.
Com tanta gentileza e atenção,
impossível não lembrar do vigésimo auforismo listado por Brillat-Savarin na sua
obra “A Fisiologia do Gosto”: “Entreter um convidado é encarregar-se de sua
felicidade durante o tempo todo em que estiver sob nosso teto”.
Éramos 7 e não tínhamos reserva.
Fomos jantar numa terça-feira e chegamos pouco depois da abertura da casa, que
acontece às 20:00 horas. Foi tranquilo conseguir mesa, mas o cenário logo mudou
e uma longa fila de espera se formou.
Assim que nos acomodamos, o Chef Sérgio
Jucá veio até a mesa e nos ofereceu o aperitivo do dia: pipoca com manteiga de
garrafa de limão siciliano e sal grosso. Quem segue o meu Instagram sabe o
quanto eu sou aficionada por pipoca, logo, impossível não me deleitar com esse
mimo.
O que eu achei mais legal em relação
ao cardápio foi a ausência de autoritarismo, pois, ao contrário de outras casas
que trabalham com menu degustação, o SuR não condiciona a experiência a todos
os comensais sentados à mesa. Assim, é possível que alguns participem do menu e
outros façam seus pedidos à la carte.
No meu caso, não poderia ser
diferente! Na minha primeira visita, escolhi o menu degustação, que é composto
de 3 entradas fixas a escolha dos Chefs, 1 prato principal dentre duas (ou
três) opções disponíveis e uma de duas sobremesas possíveis.
O estabelecimento tem uma adega linda
e repleta de bons exemplares, mas se orgulha, também, de preparar ótimos
drinks, como a deliciosa caipirosca de morango com framboesa e limão siciliano
que provei.
Iniciando a degustação, a primeira entradinha servida
foi o “Queijo coalho – avelã – azeite verde (queijo coalho tratado como
carpaccio)”. Lâminas de queijo coalho maçaricado, servido com molho pesto,
tomate, alcaparras, folhas frescas de manjericão e castanhas-de-caju (embora
conste avelã no cardápio). Apesar da grande quantidade de elementos, o
“carpaccio” ficou bem harmônico, com os complementos conferindo sabor ao sutil
queijo coalho.
Acompanhando: torradinhas de brioche
com manteiga, levemente adocicada e condimentada, muito parecidas com as
oferecidas no “Wanchako”. Uma verdadeira perdição!
Aqui, eu preciso abrir um parêntesis!
Em Maceió (não sei se só lá ou, ainda, em outras partes do Brasil), o pãozinho
conhecido como brioche é um pouco diferente do tradicional brioche francês,
geralmente preparado com frutas e/ou chocolate. O brioche maceioense é um pão
de leite bem leve e assado como se fossem dois pãezinhos em um (queria uma foto
para mostrar, mas, infelizmente, não tenho).
A entrada seguinte era uma verdadeira
obra-de-arte!!! Daquelas que você fica com receio de comer e acabar com a
beleza do prato... “Tapioquinha de bacalhau com suas tintas comestíveis
(pimentão vermelho, pimentão amarelo, cheiro verde, azeitona e alho)”. O
recheio de bacalhau estava incrivelmente cremoso e os molhos davam um sabor a
mais à tapioca.
Ao expressar meu encantamento com a
apresentação do prato, talvez a mais bela que já vi, o Chef Sérgio Jucá me
explicou que a ideia surgiu quando fizeram o serviço de catering no aniversário
do pintor alagoano Delson Uchoa. Na ocasião, desenvolveram os molhos e
apresentaram ao aniversariante como tintas, para que este pintasse os recipientes
onde as guloseimas seriam servidas.
O que vocês acharam do resultado?
Para finalizar as entradas: “Hot-dog
de lagosta com maionese de queijo Prima Donna, mostarda Dijon e macaxeira
palha”. Para sentir o máximo de sabor, reduzi o pão pela metade, pois o achei
um pouco grande. O sabor da lagosta é muito suave e acaba sendo camuflado pelo
queijo... e que queijo!!! A robusta maionese de Prima Donna, na minha opinião,
rouba a cena. E a macaxeira palha dá um toque crocante ao sanduíche. Esse, sim,
pode ser chamado de hot-dog gourmet!!!
Linhas acima, falei que o prato
principal poderia ser um “dentre duas (ou três) opções disponíveis”,
isso porque, no menu degustação do SuR, o comensal pode escolher entre o “arroz
arbóreo cozido num delicioso caldo de frutos do mar e tinta de lula, com
camarão, polvo e lula, maioneses de alho e purê de jerimum picante” e o “peito
de pato com feijão verde na nata de Major Isidoro, cebola caramelizada e farofa
de rapadura picante”. Todavia, quando o garçom descreveu as alternativas, eu
fiz uma cara do tipo: “estou muito a fim de participar da degustação, mas
nenhuma dessas seria a minha escolha de prato principal”. Aí, ele acabou
dizendo que eu também poderia pedir o “filé mignon, demiglace de vinho tinto,
mil folhas de tubérculos regionais e creme de parmesão trufado”. E este último
foi o selecionado.
A carne estava suculenta e
extremamente macia. Nem preciso dizer que o demiglace de vinho tinto caiu como
uma luva, harmonizando perfeitamente com o filé. O creme de parmesão trufado
estava de comer rezando (ainda que a culinária francesa esteja meio fora de
moda, eu adoro os seus molhos gordurosos e encorpados). Já o mil folhas, que
era de batata doce, decepcionou um pouco (e olhe que eu A-M-O batata doce!).
Para o meu paladar, teria sido melhor uma porção de batata doce gratinada no
creme de parmesão, pois as fatias super finas e sobrepostas do tubérculo,
formando o mil folhas, não deixavam o grosso molho penetrar, o que fez com que
eles parecessem 2 acompanhamentos ao invés de um só.
De sobremesa, haviam duas opções.
Como a minha mãe também estava apreciando o menu degustação, combinamos de cada
uma pedir uma sobremesa e dividirmos.
Eu fiquei com o doce “Só – quero –
chocolate” (“O” bolo de chocolate com sua calda de brigadeiro, cookies e
sorvete de chocolate”). Uma verdadeira tentação, com contraste de texturas,
sabores e temperatura. A fofura do bolo com o crocante da farofa de cookies; o
doce do brigadeiro balanceado por grãos de sal; o quente do brigadeiro com o
gelado do sorvete... Brigadeiro é o doce que eu mais amo no mundo. Logo,
aprovei de cara essa sobremesa.
Minha mãe ficou com a “Romeu e
Julieta em diferentes finais: bolo de rolo com sorvete de goiaba, calda de
goiabada, goiabada cascão, queijo do reino ralado, iogurte grego e catupiry
quente”. Eu achei a descrição mais interessante do que a sobremesa em si. Achei
que a composição pecou pelo excesso e, embora os elementos tivesse a mesma base
(a goiabada), eles não formaram um todo. Pareciam, simplesmente, vários ingredientes
dispostos em um único prato... sei lá... Para mim, não ornou!
Acharam que eu ia esquecer de falar
sobre o atendimento? Jamais!!! Afinal, é primoroso!!! Com garçons bem
preparados, conhecendo bem o cardápio e demonstrando alegria em estarem ali
trabalhando e lhe servindo. Fiquei muito orgulhosa de encontrar esse padrão de
atendimento na minha Terrinha.
No SuR Arte Gastronômica, assim como
um pintor sabe quais linhas traçar e que cores utilizar para obter uma
obra-prima; assim como um compositor tem o dom de unir notas musicais compondo
belas melodias; os Chefs conhecem os ingredientes que utilizam e sabem como
combiná-los para obter o máximo de beleza e, principalmente, de sabor,
oferecendo aos clientes deliciosas obras comestíveis. Um concorrente de peso ao
posto de melhor restaurante da cidade.
Será parada obrigatória nas minhas
próximas idas a Maceió ;o)
INFORMAÇÕES:
SuR Arte Gastronômica
Rua Professora Maria Esther da Costa
Barros, 306/320 – Stella Maris
Fone: (82) 9110-2337 e (82) 9678-1687
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