Ao planejar nossa primeira viagem ao
Norte do País, nós pensamos: “Estaremos em Manaus, porta de entrada da Floresta
Amazônica, que tal abandonarmos um pouco a cidade e adentrarmos na mata?”. E
foi assim que surgiu a ideia de nos hospedarmos num hotel de selva.
Como não desejávamos abrir mão de um mínimo
de conforto (ar condicionado, banho quente e cama limpa e macia), nosso agente
de viagens indicou o “Mirante do Gavião Amazon Lodge”, localizado no município
de Novo Airão, a 180 km da capital amazonense. Um hotel lindo, na margem do Rio
Negro, com uma arquitetura moderna e sustentável, que, utilizando
predominantemente madeira-de-lei na sua construção, acabou sendo integrado à
paisagem natural do local.
Confesso que, num primeiro momento, o
preço do pacote nos assustou. No entanto, restou justificado assim que analisamos
tudo o que era oferecido: transfer de ida e volta de Manaus, 3 refeições diárias
(café da manhã, almoço e jantar), suíte aconchegante e todos os passeios pela
região.
Neste post, vou tentar, em breves
palavras, relatar como foi a nossa hospedagem e, também, descrever os encantos
dessa terra linda e rica.
SUÍTE
Nós ficamos numa suíte de padrão
“comfort”. Ela era bem ampla, o que permitiu uma tranquila acomodação da nossa
bagagem e a livre circulação pelo recinto. A decoração rústica era muito
charmosa e composta por elementos do artesanato local, resultando num ambiente
agradável, silencioso e zen.
Foi fácil perceber que tudo foi elaborado
com muito zelo, cuidado e atenção.
O quarto oferece ao hóspede o necessário
para uma cômoda estadia: frigobar retrô da Brastemp recheado de bebidas e guloseimas;
arara para acomodação das roupas; escrivaninha e cadeira para trabalho ou
estudo; mesinha de centro e pufes...
...cama em tamanho king-size, com
colchão, travesseiros e lençóis macios e confortáveis...
...varanda equipada com rede, mesa e
cadeiras; chuveiro, com excelente vazão de água, integrado ao quarto; área do
sanitário isolada...
...produtos da Natura com fragrância de
frutos regionais.
Como a finalidade é relaxar e curtir a
natureza, não há televisão na suíte. E a internet só está disponível no hall do
hotel, o que permite uma rápida conferência de e-mails e redes sociais.
Outros hóspedes nos contaram que
precisaram matar uma aranha pequenina ou um outro inseto qualquer no quarto, porém,
nós não tivemos nenhum contratempo desta espécie. Numa das vezes em que tomei
banho, pelo vidro que separa o banheiro da área externa do quarto, avistei a sombra
de um sapinho, mas, para a minha sorte, ele estava do lado de fora :o)
PASSEIOS
Nossa viagem ocorreu no período da
cheia. Nesta época, a maior parte das ilhas fluviais do Arquipélago de
Anavilhanas são tomadas pela água, formando compridos corredores de navegação.
Utilizamos voadeiras (barcos velozes) em
quase todos os passeios, exceto no city tour pela cidade de Novo Airão. E era
uma delícia ir curtindo a beleza quase intocada da Floresta Amazônica com um
vento fresco e puro batendo no rosto. Naqueles momentos, a sensação que eu
tinha era que a vida tinha dado um “stop”, que eu não precisava me preocupar em
preparar o almoço ou em ir trabalhar, a única coisa que eu tinha para fazer era
curtir o momento, a simplicidade da vida, esvaziar a mente ou refletir sobre
qualquer coisa que passasse pela minha cabeça. Eu poderia não ter feito trilha,
não ter visto os botos ou ouvido os pássaros, mas só estas navegações já teriam
valido a viagem.
No
primeiro dia, chegamos ao hotel perto da hora do almoço. Fizemos o check-in e
um atencioso funcionário nos introduziu à filosofia e à arquitetura do lodge,
bem como explicou o funcionamento do restaurante e dos passeios.
Após
o almoço, seguimos para um city tour pela cidade de Novo Airão, que é bem
pequenina. Conhecemos a estrutura simplória do porto, visitamos lojas de
artesanato e produtos indígenas, e exploramos a Fundação Almerinda Malaquias,
que utiliza restos de madeira doados para ensinar marcenaria aos adolescentes
da região e fabricar pequenos móveis e objetos, gerando uma renda para
comunidade local.
Ao cair da noite, acompanhados pelo Sr.
Antenor e pelo Marcos, saímos para fazer a focagem de jacaré. No breu da noite,
na pequena voadeira percorrendo o Rio Negro, iluminados apenas por um spot de
luz ligado ao motor do barco, senti, literalmente, a minha pequenez neste
imenso universo e tive a minha coragem colocada à flor da pele.
Com o Marcos pilotando o barco, o Sr.
Antenor ficou na proa, com os olhinhos atentos à procura dos jacarés.
Primeiramente, ele pegou um filhotinho, que parecia um pouco maior do que uma
lagartixa.
Depois de uma tentativa frustrada, a
voadeira encostou nas árvores e o Sr. Antenor, confiante, desceu falando: “Marcos,
se precisar, eu grito para que você vá me ajudar!”. O auxílio foi necessário e
eu e o Daniel fomos “largados” no barco. Com os olhos abertos, mal enxergávamos
a nós mesmos. Ouvíamos o barulho da floresta, que se enche de vida com o calar
da noite, e eu pensava: “Meu Deus, o que foi que eu inventei? Onde vim parar?
Se os guias não voltarem, o que iremos fazer? Ainda que consigamos ligar o
barco, não saberemos por onde começar: direita ou esquerda, para frente ou para
trás”. E um misto de sensações começou a se revezar: curiosidade, excitação e
medo.
Vimos uma luz e ouvimos um barulho vindo
em nossa direção, reconhecemos as silhuetas do Marcos e do Sr. Antenor
segurando algo, dessa vez, bem maior. O tamanho do jacaré devia ser excepcional
até mesmo para eles, porque o Marcos também quis registrar o momento (rsrsrs).
Depois de sentirmos a couraça escamosa
do jacaré e tiramos umas fotos, tudo bem rapidinho, o réptil foi devolvido em
segurança e intacto ao seu habitat natural.
No segundo dia, o Marcos nos guiou por
uma trilha de uma hora e meia pela Reserva Ecológica de Madadá, aonde tivemos
uma aula sobre noções de sobrevivência na selva e apreciamos as Grutas de
Madadá.
Enquanto explorávamos a Floresta
Amazônica, o Sr. Antenor preparava o nosso almoço: tambaqui assado na brasa.
Uma delícia!
Após o almoço, pudemos contemplar o
Arquipélago de Anavilhanas, visitamos uma árvore gigante da espécime Tanimbuca,
praticamos pesca esportiva de piranhas e tomamos banho no Rio Negro, que tem
uma cor avermelhada.
No último dia, acordamos logo cedo para
contemplar o nascer do sol no Arquipélago de Anavilhanas.
Após o café da manhã, fomos interagir
com os botos cor-de-rosa no Flutuante da Marilda.
Por fim, no nosso último passeio pelo
Estado do Amazonas, fizemos uma trilha aquática pelos igapós, aonde pudemos
desfrutar do voo da garça branca amazônica.
Tem como não se apaixonar e se encantar por esse
lugar?!?!
Todos os passeios foram presididos pelos
funcionários Antenor e Marcos. O Sr. Antenor é uma verdadeira joia rara,
apaixonado pelo que faz, simpático, prestativo e responsável. Conhece como ninguém
a região e se sente feliz em exibi-la aos turistas. E o Marcos é um jovem
esforçado, cuidadoso e com uma desenvoltura exemplar para ensinar sobre a
Floresta e sua biodiversidade. Adoramos
ter sido guiados pelos dois.
RESTAURANTE CAMUCAMU
A hora das refeições era um espetáculo à
parte.
Utilizando o salão do Restaurante
CamuCamu, o café da manhã é servido direto na mesa. Nada de precisar se
levantar para selecionar a comida do buffet. E opções é o que não falta:
frutas, queijos, frios, pães, doces, geleias, café, leite e sucos.
No almoço e no jantar, os pratos são
escolhidos do cardápio do Restaurante CamuCamu, que foi elaborado pela Chef
Debora Shornik.
Agregando os conhecimentos da
gastronomia contemporânea com os ingredientes do Amazonas, a Chef desenvolveu
pratos leves e que exalam muito sabor. Embora enxuto, o cardápio é bem
equilibrado, com deliciosas opções de peixes, carnes, frangos, massas e pratos
vegetarianos.
O serviço é à la carte. Por isso, eles
aconselham que os hóspedes, com um pouco de antecedência, agendem o horário da
refeição e já escolham os pratos. Deste modo, na hora programada, assim que os
comensais se sentarem, as comidas já começarão a desfilarem pela mesa.
Na diária, estão incluídos uma entrada,
um prato principal e uma sobremesa por pessoa. As bebidas não estão
contempladas; pediu, tem que pagar.
Por mais que tenha gostado do que fui
escolhendo, fui pedindo coisas diferentes a cada nova refeição, sem repetições.
O que permitiu que eu desbravasse boa parte do menu. É lógico que um prato ou
outro acabou se adequando melhor ao meu paladar, mas, sem medo, afirmo que
todos estavam muito bem executados.
O que mais me encantou foram as saladas.
Nada de “Caeser”, “Caprese” ou qualquer outra de conhecimento global. Todas
desenvolvidas pela Chef, que, com perfeição, soube harmonizar os ingredientes e
equilibrar o sabor e frescor das criações.
Abaixo, descrevo e ponho as fotos das
saladas que provei.
Desde já, peço desculpas, pois a
iluminação do local prejudicou um “pouquinho” a qualidade de algumas fotos.
Salada de Beterraba com balsâmico e mix
de folhas e ervas:
Salada de Pepino com lentilha, ervas,
iogurte e gergelim:
Salada Verde com tomates, ovo, cenouras
marinadas e semente de girassol:
Salada de Trigo com cebola roxa, tomate,
abacate, castanhas e ervas.
Eu
sou uma pessoa que, salvo raras exceções, não gosta e, por consequência, não
come peixe. Eu amo a carapeba e a agulhinha fritas da minha terra (Alagoas),
curto filé de tilápia, bacalhau e salmão. Todavia, odeio pescado em posta e com
gosto ou cheiro de maresia. Entretanto, como os frutos de água doce são a base
da gastronomia amazonense, viajei de mente aberta, decidida a mergulhar de
cabeça nos peixes que atravessassem o meu caminho. E o resultado não poderia
ser mais surpreendente: meu paladar foi agraciado com o que encontrou. Peixes
de carne clara e macia, com um sabor suave e agradável.
No
Restaurante CamuCamu, provei dois pratos de peixe. Pirarucu fresco grelhado com
batata doce e salsa de leite de coco e gengibre. Uma combinação leve e interessante.
O
segundo peixe foi Surubim ao creme de castanhas com purê rústico de cenouras e
favas verdes. Um prato pastoso, mas delicioso.
Estou longe de ser
uma criaturinha saudável e só refeições leves, com saladas e peixes, começaram
a incomodar as minhas lombrigas. Por isso, numa noite, resolvi me jogar num Hambúrguer de fraldinha e alcatra com cebolas assadas,
batatas fritas e aioli. À primeira vista, o sanduíche pareceu pequeno e o pão
massudo. Mas o tamanho foi suficiente, mesmo para o meu marido, que resolveu
fazer o mesmo pedido que eu. E o pão era macio e saboroso.
Na
última refeição, o escolhido foi o bom e velho Filé Mignon, acompanhado de
batatas e cebolas grelhadas com molho de tucupi e mostarda.
Só
consegui desfrutar das sobremesas nos dias em que fui de peixe como prato
principal.
Provei
a intitulada “Oreo”, combinação de biscoito, ganache de chocolate e compota
artesanal de cupuaçu.
O
tradicional “Pudim de Leite” ganhou um toque especial e foi servido com
castanhas e creme de laranja e Contreau.
Se
a apresentação dos pratos enche os olhos e os sabores explodem na boca, o
atendimento toca o nosso coração. Jovens da cidade, que foram treinados e
servem com cuidado, cordialidade e simpatia. O Jackson é centrado, focado,
muito atencioso e inteligente. A Bia parece meio calada, mas se você der abertura,
se revela uma moça simpática e conversadeira, mas, importante frisar, sabendo o
horário de deixar os hóspedes à vontade e, também, de voltar ao trabalho. E a
Adriele é mais acanhada e envergonhada, no entanto, muito prestativa.
Adoramos
ver o empenho destes jovens, que parecem ter amor pelo que fazem e uma grande
gratidão ao Mirante do Gavião, que trouxe novas oportunidades de emprego para a
comunidade local.
IMPRESSÕES
FINAIS SOBRE O HOTEL
Era
inevitável, ao retratar este trecho da viagem, descrever a nossa experiência no
Mirante do Gavião, pois foi lá, no Restaurante CamuCamu, que realizamos todas
as nossas refeições e foi a equipe de guias dele quem promoveu todos os nossos
passeios.
A
arquitetura do lodge é deslumbrante, mas a estrutura de lazer se resume a uma
piscina. Não há sauna, academia, spa, nem quadras esportivas. No entanto, você
não sentirá falta de nada disso, já que os passeios pela região, em geral, têm
uma longa duração. A ideia do hotel é, de fato, servir de ponto de apoio para
refeições e acomodação, porque o lazer será oferecido pela natureza. E, caso
você não queira voltar para o quarto após a excursão, terá toda a imensidão do
Rio Negro e a piscina a sua disposição.
O
hotel oferece tudo que o hóspede precisa: uma bela atmosfera, suítes
acolhedoras, uma equipe preparada e cordial, e passeios maravilhosos.
O que posso dizer é que foi uma breve, mas doce estadia, que, com toda certeza, deixou um gostinho de quero mais. Foram dias de charme e conforto na selva. Por isso, recomendo de olhos fechados.
O que posso dizer é que foi uma breve, mas doce estadia, que, com toda certeza, deixou um gostinho de quero mais. Foram dias de charme e conforto na selva. Por isso, recomendo de olhos fechados.
CONCLUSÃO FINAL DA SÉRIE CONHECENDO O
AMAZONAS
Essa,
certamente, foi uma viagem que deixou muitas marcas. Saí da minha zona de
conforto e fui me aventurar num universo completamente desconhecido, cheio de
verde, água, bichos e zumbidos. Era impossível não ser tocada por tanta beleza e
grandiosidade, que me instigou e intrigou.
Quando
fomos conhecer os botos, uma turista (hospedada em outro lugar) reclamava para
o seu guia que o hotel não deveria fazer esse passeio, que as pessoas vão até
lá para conhecer a natureza no seu estado natural, com o mínimo de interferência
humana. E eu pensei: “Os botos são fofinhos e eu adorei vê-los de perto e
sentir seu corpo gelatinoso, mas será que essa senhora não tem razão? Será que
fornecer alimento não faz com que eles se acomodem e deixem de exercer o seu
papel na cadeia alimentar?”.
Fui
para o Amazonas com um pensamento, que era: “Que pena que nem todos podem e, na
verdade, a maioria não se interessa ou sente prazer em passeios como esse, de
ecoturismo”. Mas saí de lá com outro: “Ainda bem que é um seleto grupo de pessoas
que curtem a natura e se aventuram por ela. Já pensou o quanto seria
prejudicial para a Floresta Amazônica (e tantos outros lugares) se todos
quisessem explorá-la? Aumentando o número de hotéis na região e o de barcos nos
rios?”.
Assisti
a um documentário muito interessante no Netflix, chamado “Amazônia Eterna”. E
um dos pesquisadores esclarecia: “Tem que ser atribuído um valor econômico a
floresta em pé, porque sem esse valor, a floresta vale mais com suas árvores
desmatadas”. É triste imaginar que a ganância humana é capaz de destruir algo
essência à vida no planeta. Porém, essa é a realidade! As coisas parecem ter
preço e não valor.
Torço
por mais oportunidades de desbravamento deste Brasilzão. Quero conhecer o meu
País, com toda a sua diversidade geográfica e cultura. Quero difundir nossas
tradições. E, quem saber, ajudar as pessoas a compreendê-lo melhor, respeitá-lo
e preservá-lo, para que outras gerações possam conhecê-lo do jeito que ele é.
INFORMAÇÕES:
Mirante
do Gavião Amazon Lodge
www.mirantedogaviao.com.br/pt-br/
Endereço: Rua Francisco Cardoso, s/n, Nossa Senhora Auxiliadora, Novo Airão – Amazonas
Endereço: Rua Francisco Cardoso, s/n, Nossa Senhora Auxiliadora, Novo Airão – Amazonas
Fone:
+55 92 3365-1644 / 99503-8634
Todos os posts sobre o Amazonas:
Nenhum comentário:
Postar um comentário