domingo, 13 de novembro de 2016

"A Casa do Porco Bar": Uma Ode à Carne Suína!


Eu vou começar este post de uma maneira diferente. Vou inicia-lo fazendo alguns questionamentos. O primeiro deles é: “Quantas vezes você foi a um restaurante e encontrou carne suína no cardápio?”. Esqueça o bacon que complementa o hambúrguer gourmet ou que é salpicado sobre a batata frita com cheddar. Também não leve em consideração o torresmo servido com a feijoada ou a pancetta utilizada no preparo do Spaghetti alla Carbonara. Eu quero saber quantas vezes você viu, no menu de um restaurante, o porco sendo a atração principal. Provavelmente pouquíssimas. A não ser que você more na Alemanha (rsrsrs).
Outra indagação: “E, das vezes em que você encontrou a carne suína brilhando no cardápio, quantas vezes a sua escolha recaiu sobre ela?”.
Eu me lembro que, quando era criança, meu pai costumava pedir, em restaurantes chineses, o "Porco Agridoce", e eu sempre compartilhava este prato com ele. Adorava aquela massa fofinha por dentro e meio borrachuda por fora, recheada com uma carne de porco, provavelmente de segunda, e coberta por um molho vermelho e lustroso.
Hoje, já encontramos partes mais nobres sendo comercializadas, como o filé suíno e a picanha.
Dos posts que escrevi aqui no blog, recordo-me de ter pedido filé mignon suíno no restaurante Le Bife. Porém, isso aconteceu porque fui ao estabelecimento durante a “Restaurant Week” e esta foi a opção que mais me agradou. Se eu pudesse selecionar qualquer coisa do cardápio, dificilmente esta teria sido a minha escolha.
A verdade é que, além das religiões que proíbem a sua ingestão, há pessoas que ainda têm receio de consumir carne de porco, pois acreditam que são muito gordurosas e, principalmente, podem transmitir doenças. Assim, o porco nunca fez muito sucesso na mesa do brasileiro.
Contudo, tal fato não foi capaz de intimidar o ousado, criativo e genial Chef Jefferson Rueda, que resolveu explorar o porco em sua integralidade (do focinho ao rabo), dedicando todo o cardápio de um bar a pratos preparados exclusivamente com tal iguaria.
Jeffim, como é carinhosamente conhecido, é daqueles profissionais que dispensam apresentações. Já está no mercado gastronômico há mais de 20 anos, comandando estabelecimentos badalados e angariando muitos prêmios. Recentemente, A Casa do Porco Bar ingressou na lista dos melhores restaurantes da América Latina na 24ª colocação. A posição mais alta atingida por um estabelecimento estreante no ranking. E foi eleito, pela edição especial "Veja Comer & Beber - São Paulo 2016/2017", como o bar com a melhor cozinha da capital paulista. 
O que Jeffim faz com o porquinho? Só indo até lá para ver! É algo surreal! E o cardápio não é enxuto! Pelo contrário, é extenso e repleto de preciosidades. 
A casa tem ambiente de bar. Todavia, com fornecedores escolhidos a dedo e ingredientes frescos e de qualidade, Rueda, caipira de São José do Rio Pardo, se vale de sua memória afetiva e dos seus conhecimentos técnicos, inclusive de açougueiro, para preparar pratos que poderiam facilmente ser servidos em qualquer restaurante sofisticado do mundo.
Lá, come-se maravilhosamente bem. E o atendimento também é condizente com o de estabelecimentos estrelados, com garçons simpáticos, muito atenciosos e solícitos, que fazem de tudo para agradá-lo. Fomos atendidos pela fofa garçonete chamada Luana, que, ao final do seu turno, foi substituída pelo prestativo Diego.
Nós já tínhamos tentado ir à Casa do Porco no começo do ano, mas a lista de espera era tão sem noção, que a gente desistiu e foi almoçar no “Bar da Dona Onça”, que é comandado pela Janaína Rueda, esposa do Jeffim, e é outro “boteco” que merece a sua visita. Desta vez, chegamos às 18h10min, dispostos a aguardar. Por uma mesa para três pessoas, esperamos cerca  de uma hora.
O legal é que eles têm uma janelinha virada para rua, por onde comercializam sandubas, porcopoca (torresminho num saquinho de pipoca) e alguns drinks. Enquanto esperávamos, o Daniel tomou uma cerveja “Horny Pig” e eu provei a sangria, tudo de frente para o açougue da casa.


No cardápio, a primeira coisa que se ler é: “Se você estiver curioso para experimentar um monte de pratos, peça de tudo um porco! Fale com o garçom”. E foi exatamente o que nós fizemos! Conversamos com a Luana e optamos pelo “Menu Degustação”, que é servido em 10 etapas e custa R$ 100,00 por pessoa. Aqui, a degustação é ágil e os pratos são saborosos. Nada de passar 3 horas comendo e sair reclamando do gosto dos pratos. Outro detalhe: se alguém que estiver com você não quiser fazer a degustação, não tem problema, eles não exigem que todos na mesa a apreciem.
Começamos com a charcuteria. Foram servidos o “Presunto Real Rueda” e o “Embutido de Cabeça”, ambos produzidos no bar. Para acompanhar, pão de fabricação própria, compota de cebola caramelizada, sementes de mostarda com tucupi e rabanetes em conserva. O Presunto Real nada mais é do que o Presunto Royale, que foi servido em grossas e suculentas fatias. O Embutido era untuoso e sem sabor, não faria questão de repetir. Os rabanetes tinham o gosto forte; a cebola tinha a doçura equilibrada pela acidez; e a mostarda era bem convidativa.



Em seguida, foi a vez de experimentar o Tartar de porco (maturado) com manteiga de tutano e pó de cogumelo, servido sobre telha de pão crocante. Uma combinação leve e graciosa. Ah... e não precisa ter medo de comer o porco cru, pois, quando o mesmo é adquirido de um criador certificado, não há risco de transmitir doença.


Na etapa seguinte, recebemos Sushi de papada de porco. O arroz Gohan tinha o típico sabor agridoce. A fina fatia de papada foi besuntada com tucupi preto e presa ao bolinho de arroz com uma tirinha de nori (alga marinha). Minhas papilas gustativas identificaram vários sabores, como azedo, amargo e apimentado, mas o resultado total não foi agradável. Numa próxima visita, eu pulo esse canapé.
Ainda com toques orientais, nosso próximo petisco foi uma costelinha de porco salpicada com algas marinhas e servida numa cestinha de alface romana, recheada com arroz Gohan. A costelinha estava macia e saborosa, embora o sabor do molho parecesse com o do sushi acima descrito.


A primeira vez que comi morcela (linguiça de sangue) foi no restaurante Tegui, de Buenos Aires, e eu senti repulsa ao ingerir aquilo. Tanto, que nem queria pedir o próximo passo da degustação na Casa do Porco, que era intitulado “#sangueéingrediente” e se tratava de sanguiça de sangue com tangerina e broto orgânico. No entanto, como eu teria o desconto de apenas R$ 2,00 no preço do menu, o Daniel me encorajou a prová-la e ainda bem que ele fez isso, pois a criação me surpreendeu. Em uma telha de pão negro, foi espalhada uma pasta de sanguiça, resultando numa crocância incrível, de sabor marcante e atraente. Valeu ter feito o esforço e apreciado!


O “hors coucours” da noite, por unanimidade, foi o Pão chinês no vapor com barriga de porco, picles de cebola roxa defumada, pimenta fermentada e brotos de agrião. O pão era tão fofinho e leve quanto uma bolinha de algodão. E, apesar da combinação ser picante, eu, que não curto muito pimenta, não conseguia parar de comê-la e queria repeti-la e repeti-la. Gente, que coisa gostosa!!!! Se você for a Casa do Porco, ainda que não participe da degustação, não deixe de experimentar esta fantástica criação do Chef Jefferson Rueda.


Depois, foi a hora do Croquete de porco, servido com pimenta fermentada e sementes de mostarda com tucupi. Crocante e sequinho por fora e com o recheio bem molhadinho.


O passo seguinte do Menu Degustação foi um reestudo do “Virado à Paulista”. Telha de pão crocante com pasta de feijão, carne de porco e linguiça desfiada, tartar de banana, brotos de couve e ovo de codorna. A perfeita harmonia entre os ingredientes e as texturas proporcionam um intenso prazer a quem o saboreia.


Então, chegou a hora da entradinha que é a mais clicada do restaurante: o “Torresmo de pancetta com goiabada”, finalizado com flor de sal, picles de cebola roxa defumada e brotos orgânicos. Confesso que, quando via as fotos no Instagram, pensava: “Que coisa estranha!”. Mas a realidade é que é muito bom! A goiabada é picante e levemente salgada. E a pancetta (Ah! A pancetta!) é carnuda e saborosíssima. A composição ornou (rsrsrs)!


Para finalizar, foi servida a grande estrela da casa, o “Porco San Zé”, que pode vir acompanhado de tutu de feijão, tartar de banana e couve, ou de cuscuz de legumes e hortaliças na brasa. Nós escolhemos a primeira opção, tutu cremoso, couve temperada com limão e uma farofinha sensacional. O porco é assado inteiro, por 8 horas, em uma churrasqueira especial. A carne se desfia de tão macia e exala um sabor inigualável. Com certeza, é outro prato que não pode ser ignorado pelo comensal.


Não estão incluídas sobremesas no Menu Degustação. Ao finalizá-lo, eu já estava satisfeita, mas já tinha visto tantas vezes o Pudim de leite com chantilly de caramelo e algodão doce no Instagram, que não podia deixar de prová-lo. A apresentação é bela, contudo, embora seja bom, tanto o pudim quanto o algodão doce são açucarados em demasia. Juntos, a doçura em excesso torna praticamente impossível a consumação por apenas uma pessoa.


Ir ao estabelecimento “A Casa do Porco Bar” é ter a certeza de que encontrará pratos bem elaborados e inovadores, preparados com o coração e exalando sabores claros e confortáveis; é ter a certeza de que será bem atendido; e, principalmente, de que sairá satisfeito e encantado com a experiência. Por isso, não pense, nem espere, simplesmente, VÁ! Vá ser agraciado!   


INFORMAÇÕES:
A Casa do Porco Bar
Rua Araújo, 124, Centro, São Paulo – SP
Telefone: (11) 3258-2578


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